sábado, 27 de novembro de 2021

HISTÓRIA! Termina exílio da Jânio Quadros em Corumbá

 



Terminou em 27 de novembro de 1968 o confinamento de 116 dias do ex-presidente Jânio Quadros, em Corumbá. Isolado por ordem do general Costa e Silva, em portaria expedida por Gama Gama e Silva, ministro da Justiça, JQ teve frustradas todas as tentativas na justiça para interromper o castigo, imposto pela ditadura por críticas do ex-presidente ao regime de exceção, adotado pelos golpistas de 31 de março de 1964.

Janio recusou o avião da FAB, colocado à sua disposição, alegando que permaneceria na cidade por mais alguns dias, para ser padrinho de batizado do filho do líder emedebista, Jesus Gaeta, vereador mais votado do município, o que não ocorreu.

Recusando-se a falar com a imprensa, o ex-presidente deixou Corumbá, em táxi aéreo, na madrugada, desembarcando às 9,57 no campo de Marte, em São Paulo.

FONTE: Diário de Notícias  (RJ), 28 de novembro de 1968.

domingo, 21 de novembro de 2021

HISTORIA! Assassinado em Cuiabá o prefeito Ari Coelho de Campo Grande








Aos 41 anos é morto a bala,em 21 de novembro de 1952,o prefeito de Campo Grande, Ari Coelho de Oliveira (PTB). O assassino foi  Acir Pereira Lima que o acometeu em uma emboscada no prédio da CER-3 em Cuiabá, onde o prefeito fora tratar de assuntos de interesses do município. Nascido em Bauzinho, município de Paranaíba, fez seus estudos ginasiais no colégio Grambery, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Formou-se em Medicina em 1933, em Belo Horizonte, pela Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais. Chegou a Campo Grande em 1934, onde iniciou sua carreira de médico, fundador e proprietário da Casa de Saúde Santa Maria, denominação dada em homenagem à sua esposa dona Maria Arantes. 

“Eleito prefeito de Campo Grande no pleito eleitoral de 3 de outubro de 1950, assumiu o executivo municipal em 31 de janeiro de 1951, tendo dentro de seu programa de Honestidade, Responsabilidade e Trabalho, imprimido ao município, no curto período de sua administração, um desenvolvimento magnífico, elevando a cidade de Campo Grande ao nível de primeira grandeza".¹


O crime foi o desenlace de uma divergência política havida entre o prefeito Ari Coelho de Oliveira e Arquimedes Pereira Lima, presidente da Fundação Brasil Central, ambos do PTB, este dissidente e líder da ala do partido que apoiava o governo udenista de Fernando Correa da Costa. O prefeito, através de seu jornal "O Matogrossense", de Campo Grande, passou a denunciar ao desafeto, engrossando a corrente de acusações de negociatas, patrocinadas pela fundação, acumpliciada ao governo do Estado para favorecer grilagem de terras devolutas, por uma organização criminosa, da qual fazia parte um irmão de Arquimedes, Alci Pereira Lima, alto funcionário do governo do Estado, autor do atentado contra o prefeito.

ORIGEM - O jornal Ultima Hora (RJ), que antes do atentado ao prefeito, denunciou a negociata de Pereira Lima, com a sua morte, convenceu-se:

O brutal assassinato do prefeito de Campo Grande está ligado a grandes negociatas de terras conforme documentadas reportagens publicadas recentemente por ULTIMA HORA. Quadrilhas de grileiros vêm agindo a solta nas regiões do Alto Xingu e Fundação Brasil Central, vendendo terras de propriedade de dezenas de tribos indígenas que habitam aquela região. Os criminosos lançam mãos de todos os recursos para levar avante seus negócios ilícitos, empregando até mesmo bandos armados para espalhar o terror entre os habitantes das selvas.

O criminoso Alci Pereira Lima, tesoureiro da Comissão de Estradas de Rodagem, irmão do presidente da Fundação Brasil-Central, tornou-se rico da noite para o dia em negócios dessa natureza, de parceria com o grileiro Rodrigo Barjas, condenado pela justiça de São Paulo. Recentemente o sertanista Orlando Vilas Boas foi demitido da Fundação Brasil Central por se recusar, patrioticamente, a prosseguir nos estudos de uma rodovia, impraticável sob o ponto de vista econômico, cuja construção serviria para indenizar e valorizar os terrenos dos grileiros. Essa estrada deveria partir de Cuiabá e penetrar nas terras do grileiro assassino Alci Pereira Lima e seu sócio Barjas.


PREMEDITAÇÃO - O matutino carioca está convencido de que o crime foi premeditado, versão nunca desmentida:

Mal desembarcaram em Cuiabá, onde foram participar da convenção do Partido Trabalhista Brasileiro, o prefeito Ari Coelho de Oliveira e seus amigos foram avisados a tempo de que suas vidas corriam perigo. Não dando grande importância ao fato, embora entre os informantes se encontrasse um desembargador, dirigiu-se o prefeito de Campo Grande na manhã do dia 21 a um barbeiro da cidade. Ao fazer calmamente sua barba acercou-se de si um cidadão para lhe mostrar um violento artigo contra sua pessoa. O Dr. Ari compreendendo a provocação do indivíduo se limitou a sorrir, talvez seu riso derradeiro. Dirigiu-se sem seguida à Assembleia Legislativa onde se demorou examinando a carta de Mato Grosso, levantada pela Comissão Rondon, identificando a cidade de "Bausinho" onde nascera.


Arci Pereira Lima, o assassino

O DESFECHO - O jornal carioca segue os passos do prefeito de Campo Grande até a cena do crime:

Mal sabia o prefeito Ari de Oliveira que momentos mais tarde perderia a vida ao penetrar na Sala dos Municípios, com uma bala na cara, disparada de surpresa. Saindo da Assembleia Legislativa se encaminhava para a morte ao pedir o carro do deputado Leal de Queiroz emprestado e se dirigindo para a sede da Comissão de Estradas de Rodagem, sita à rua 13 de Junho. Chegando ao local, onde foi atendido pelo porteiro, perguntou-lhe o prefeito de Campo Grande se poderia falar com o diretor da Comissão a quem desejava solicitar as cotas de seu município do ano 1951, que ainda não haviam sido entregues. Poucos minutos de vida teria então, pois mal entrara o Dr. Ari de Oliveira na Sala dos Municípios, o grileiro Alci Pereira Lima, irmão do presidente da Fundação Brasil Central, abriu a porta de sopetão e disparou um revólver, atingindo a face direita do prefeito de Campo Grande, que emborcou de frente, mortalmente ferido. Em seguida, o criminoso Alci Pereira Lima, tesoureiro da Comissão de Estradas de Rodagem, fugiu em seu carro, lubrificado e abastecido de véspera. Acudido na própria sede da CER pelo médico Salomão Nahas, o prefeito de Campo Grande foi transferido para a Santa Casa, onde faleceu uma hora depois, sem pronunciar uma só palavra.

EM CAMPO GRANDE - O jornal registra ainda a repercussão do crime e a chegada do corpo do prefeito em sua cidade:

Esta cidade recebeu consternada a notícia do brutal assassinato de seu prefeito, jornalista Ari Coelho de Oliveira, morto a traição no interior de uma repartição pública de Cuiabá. Todo o comércio local cerrou suas portas e o povo em massa se manifestou para receber o corpo e prestar ao querido morto as homenagens póstumas a que fazia jus.

Anunciada a hora da chegada do avião que conduzia o corpo, a multidão foi aos poucos se aglomerando ao longo das vias públicas por onde transitaria o séquito fúnebre. Desde a Base Aérea até a porta do edifício do Fórum, aglomerava-se a massa humana, todos com lágrimas nos olhos dizendo um último adeus àquele que tanto fez por Campo Grande.


À passagem da urna funerária, cenas comoventes se registravam aqui e ali: eram acenos de lenços brancos no derradeiro adeus, lágrimas copiosas derramadas por pessoas de ambos os sexos e de todas as condições sociais.


Duas extensas filas de automóveis, caminhões e ônibus cobriam cerca de maio quilômetro da rota percorrida, até que em chegando à avenida Calógeras parou o carro fúnebre e a multidão tomou nos braços o caixão, que foi conduzido pelo povo até a Câmara Municipal, onde o corpo ficou exposto ao povo em câmara mortuária.²


Em sua homenagem a cidade ergueu um monumento na praça da Liberdade que passou a ter o seu nome, inaugurado a 10 de fevereiro de 1954. 


FONTEJ. B. Mattos, Os Monumentos Nacionais (Mato Grosso), Imprensa do Exército, Rio de Janeiro, 1957, 65. ²Jornal Última Hora (RJ) 22-11 e 28-11-1952.

FOTOS: reprodução da revista O Cruzeiro (RJ)

sábado, 20 de novembro de 2021

HISTORIA: Rondon em Coxim




Em missão de reconhecimento do futuro trajeto da linha telegráfica, já implantada de Cuiabá ao Itiquira, Rondon chega a Coxim em 20 de novembro de 1901:

Apeamos na casa do cel. Albuquerque onde diversas pessoas aguardavam a chegada da Comissão. O primeiro a me abraçar foi meu antigo professor de primeiras letras, João Batista da Silva Albuquerque, irmão do coronel. Professor público em Cuiabá anteriormente, era, no momento, o mais forte negociante de Coxim. Na escola pública por ele regida, é que me matriculou meu tio Manuel Rodrigues quando em 1873 cheguei de Mimoso.
Veio também me cumprimentar um homem que reconheci como o assassino de um camarada da fazenda Santa Luzia. Sem olhar para a mão que me estendia ele, perguntei-lhe se não era desertor do exército. Gaguejou e, disfarçando, esgueirou-se, desaparecendo antes que tivesse sido possível tomar qualquer providência.
Estava o coronel Albuquerque, infelizmente, muito abatido com grave perturbação cardíaca.

FONTEEsther de Viveiros, Rondon Conta Sua Vida, Cooperativa Cultural dos Esperantistas, Rio, 1969, página 141

FOTO: Projeto Memória


quinta-feira, 18 de novembro de 2021

HISTORIA! A morte do senador Joaquim Murtinho





Aos 63 anos, morre no Rio de Janeiro, em 18 de novembro de 1911, o senador Joaquim Murtinho, o político mais influente de Mato Grosso e um dos mais importantes do Brasil nas duas primeiras décadas da república. Nascido em Cuiabá em 7 de novembro de 1848, filho do baiano José Antonio Murtinho, governador da província de Mato Grosso (1868), estudou no Rio, onde formou-se em medicina e engenharia. Sua morte teve repercussão nacional, com a cobertura em todos os jornais do estado e do país:

Já íamos encerrar, hoje, pela madrugada, o serviço de nossa redação, quando fomos surpreendidos pela dolorosíssima notícia da morte do eminente senador Dr. Joaquim Murtinho. Esse fatal desenlace teve lugar a 1 1/2 da manhã, em Santa Tereza, na casa em que residia o notável homem de Estado.

A hora adiantadíssima em que foi conhecida a desoladora nova não nos permite mais que uma ligeira referência à vida e à obra do grande morto, decerto uma das mais salientes e luminosas figuras da política nacional.

Espírito de organizador, vigorosamente ativo, as suas crenças de bom republicano datavam ainda da monarquia, e, desde os primeiros dias da República ele veio ilustrando e fazendo prestigiado o seu nome por uma brilhante série de serviços de grande alcance prestados ao país.

Como parlamentar, a sua ação foi das mais fecundas; como cientista, o seu nome tem glórias que o fizeram reputar quase sem competidor entre nós. Médico e fisiologista prodigioso, era além disso engenheiro, absolutamente senhor das ciências positivas.

Mas onde sua personalidade avultava, num forte relevo de eminentes qualidades e méritos excepcionais era, sem dúvida, como estadista.

A sua vida de estadista iniciou-a como ministro da viação do governo de Manoel Vitorino, vindo depois continuá-la no governo Campos Sales, como ministro da Fazenda. Foi nesse posto que as circunstâncias de momento tornavam extremamente difícil, cercado de escolhos onde podiam irremediavelmente naufragar os créditos da nação, que ele executou o seu programa financeiro, ao qual se deve o restabelecimento do nosso bom nome no estrangeiro e o levantamento de nossas energias econômicas.

Tudo o que daí pra cá obtivemos no nosso progresso é uma consequência inegável da sua ação e da sua obra de governo.

Presidente da delegação brasileira ao Congresso Pan-Americano, que no ano passado se reuniu em Buenos Aires, senador por Mato Grosso, lente por concurso da Politécnica, parlamentar, estadista, homem de ciência, em qualquer desses ramos de atividade o homem eminente que acaba de morrer mostrou sempre que pertencia à ordem das individualidades de máxima grandeza intelectual e moral e prestou ao Brasil os mais assinalados serviços.

O seu desaparecimento cobre de luto a Nação.

O enterro de Joaquim Murtinho deu-se no dia 20 de novembro no cemitério São João Batista.


FONTE: O Paiz (RJ), 19 de novembro de 1911

FOTO: Diário da Manhã (RJ), 21 de novembro de 1911.


quarta-feira, 17 de novembro de 2021

HISTORIA! A morte do senador Ramez Tebet

 




Nascido em 7 de novembro de 1936 em Três Lagoas, faleceu em Campo Grande, em 17 de novembro de 2006, o senador Ramez Tebet. Fez seus primeiros estudos em Lins e o curso de Direito no Rio de Janeiro, onde iniciou seu longo aprendizado político, como militante da Associação Mato-grossense de Estudantes. Advogado criminalista e promotor, ingressou na política como prefeito nomeado de Três Lagoas. Elegeu-se pela primeira vez em 1978, pela Arena, deputado estadual constituinte, vindo a assumir a função de relator geral de primeira Constituição do Estado de Mato Grosso do Sul. Em 1982 é eleito vice-governador, na chapa do PMDB, assumindo o governo em 1986, com a desincompatibilização do titular, Wilson Martins, que deixou o cargo para ser candidato a senador. Em 1990 vence a eleição para o Senado, onde foi relator do Projeto Sivam, presidente da CPI do Judiciário e do Conselho de Ética do Senado. Em 2001 é nomeado pelo presidente Fernando Henrique, ministro da Integração Nacional, cargo que exerce por pouco tempo, deixando-o para assumir a presidência do Senado. Em 2002 reelege-se com expressiva votação para o Senado. Foi presidente da Comissão de Asssuntos Econômicos.

A morte do senador Ramez Tebet teve repercussão nacional. Destaque dado pela Folha de S.Paulo:

O senador Ramez Tebet (PMDB-MS) morreu na noite desta sexta-feira, por volta das 23h30, em Campo Grande (MS). Tebet estava em sua casa, com os quatro filhos e a esposa.

O senador sofria de câncer no fígado e havia sido internado no final de outubro no hospital Albert Einstein, em São Paulo, por causa de uma infecção causada por reações alérgicas após trocar a medicação utilizada na quimioterapia.

A situação estava sob controle e, há uma semana, ele foi liberado do hospital para continuar o tratamento em sua casa, em Campo Grande. Na ocasião, Tebet acreditava que poderia voltar a trabalhar no Senado na próxima semana.
Na sexta-feira, porém, o quadro se agravou. Ele voltou a sentir problemas respiratórios. Alguns anos atrás, Tebet havia lutado e superado um tumor no pulmão. Ele também já havia sofrido um câncer na bexiga.

Na sexta-feira, porém, o quadro se agravou. Ele voltou a sentir problemas respiratórios. Alguns anos atrás, Tebet havia lutado e superado um tumor no pulmão. Ele também já havia sofrido um câncer na bexiga.

Durante a sexta-feira, Tebet permaneceu sem falar e respondendo apenas a alguns estímulos. Embora conseguisse respirar sozinho, ele era auxiliado por um aparelho para eliminar a secreção pulmonar. Segundo sua assessoria de imprensa, tratava-se de uma medida para dar mais conforto ao paciente. 

Tebet completou 70 anos no último dia 7 de novembro. Ele cumpria seu segundo mandato como senador pelo PMDB e ficaria na Casa até o fim de 2011. Ele será substituído por seu primeiro suplente, Valter Pereira de Oliveira (PMDB). O corpo do senador deverá ser enterrado hoje em sua cidade natal. 


FONTE: Folha de S.Paulo, 17 de novembro de 2006.



segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Rondon participa da proclamação da República

 


Positivista convicto e ativista do movimento contra a Monarquia, o alferes matogrossense Cândido Mariano da Silva Rondon, participa no Rio, em 15 de novembro de 1889,  da proclamação da República, cuja atividade ele relata em seu diário:

Estava cheio o quartel. Chegamos na ocasião em que era arrombada a Arrecadação. Pedi logo um dos revólveres nagan que estavam sendo distribuídos – arma que conservo, com a que me ofereceu Roosevelt, verdadeiras peças de museu.


Benjamim Constant chegou às 2 da madrugada. Conferenciavam os oficiais, entre os quais o Cel. Sólon. Ficou resolvido que se indagasse se a Marinha permitiria a saída da ‘Brigada Estratégica’ e foi, nesse sentido, redigido um ofício ao Alte. Wandenkolk.


Escolheu Benjamin Constant para portadores de tão importante mensagem os dois discípulos em quem mais confiava – os discípulos amados – Fragoso e eu. Seríamos a ligação entre a ‘Brigada Estratégica’ rebelada e os oficiais revoltados da Armada.


As 4 horas partimos em cavalos escolhidos para uma galopada de São Cristóvão ao Clube, no largo do Rossio.


O tropel dos cavalos cortava o silêncio da madrugada, mas prosseguíamos sem obstáculos. Cauteloso, propus, aos sairmos da rua Gen. Pedra para defrontar o Quartel General, que nos mantivéssemos cosidos com a grade do jardim, para não sermos percebidos.


Estava o Quartel General todo iluminado, como que para advertir que o governo vigiava.


Continuamos a cautelosa marcha, quase que sopitando o pisar dos cavalos, para que não ressoasse na calçada, até desembocar na Câmara Municipal.
Ao fazer a curva para ganhar a rua da Constituição o meu cavalo prancheou – mas o vaqueiro mimoseano galopava firme na rédea e o animal que rodara, conseguiu firmar-se.


Seguíamos insensíveis a tudo o que não fosse o pensamento de chegar o mais depressa possível ao largo do Rossio, ao Clube Naval e, quando apeamos estavam nossos cavalos brancos de espuma.


Levávamos a senha. Batemos, uma portinha que nos fora indicada, três pancadas espaçadas. Depois de alguns minutos percebemos que alguém descia. Ouvimos, de dentro, as palavras da senha a que respondemos, repetindo por três vezes a contra-senha, segundo as instruções recebidas. Abriu-se então uma fenda na portinha, por onde introduzimos o ofício. Daí a pouco voltou quem recebera de nós o documento e, repetidas as mesmas formalidades, foi-nos entregue pela fenda o ofício resposta.

O tempo de montar de novo e lá partimos para o convento de Sto. Antonio, onde estava aquartelado o 7º Batalhão de Infantaria, a fim de informar a situação o cap. Ferraz. Já encontramos todos a postos. Depois de lhe falar e de lhe transmitir a mensagem de que éramos portadores, tocamos para São Cristóvão a galope, sem acidente.

O dia despertava. Súbito, tingiu-se o oriente sob uma chuva de ouro, pálida a princípio e depois cada vez mais rubra... e sobre essa cortina surgiria em breve o sol a iluminar um novo dia, a iluminar pela primeira vez a República brasileira.


FONTEEsther de Viveiros, Rondon conta sua vidaCooperativa Cultural dos Esperantistas, Rio, 1969, página 53.

domingo, 14 de novembro de 2021

Concluída a demarcação da fronteira Brasil-Paraguai

 



Coronel Eneas Galvão, o visconde de Maracaju



Em ofício enviado 14 de novembro de 1874 aos seus superiores, o coronel de engenheiros Rufino Enéas Gustavo Galvão comunica a conclusão da obra de delimitação da fronteira Brasil-Paraguai:

É com a maior satisfação, comunico ao ministro dos Estrangeiros, que apresento à V. Exa. o exemplar desta ata (a derradeira) e o daquela carta (geral), pertencentes ao Brasil, por comprovarem tão importantes documentos que ficou completamente concluída a demarcação de nossa fronteira com esta República, único trabalho deste gênero realizado até o presente sem interrupção e no curto espaço de vinte e seis meses. A extensão de 190 léguas da fronteira demarcada, está pouco conhecida, 80 de picadas abertas nas serras de Amambaí e Maracaju e nas cabeceiras do Apa para deslindar a questão de Estrela; a custosa navegação daquele rio e a do Alto Paraná, com os riscos que apresenta acima da foz do Iguaçu, podem dar uma ideia da perseverança da comissão e dos trabalhos com que lutou para efetuar esta demarcação. 


FONTE: Virgílio Correa Filho, História de Mato Grosso, Fundação Júlio Campos, Várzea Grande, 1994, página 575

sábado, 13 de novembro de 2021

HISTORIA! Nasce Nicolau Fragelli, médico, deputado e prefeito de Corumbá








Nasce em Corumbá, em 13 de novembro de 1884, Nicolau Fragelli. Filho de José Fragelli e Tereza Provenzano Fragelli, de origem italiana. Fez o curso primário em sua cidade natal e o secundário em Cuiabá. Aos 19 anos matriculou-se na Faculdade de Medicina de Porto Alegre, formando-se em 1911, aperfeiçoando-se em Paris em 1914. Iniciou na política em 1918, elegendo-se deputado estadual na gestão de Dom Aquino Correa, no governo. Em 14 de agosto do mesmo ano é nomeado intendente geral (prefeito) de Corumbá, para superar crise política local. 

Deputado até 1930, quando teve o mandato cassado pela revolução getulista, retorna à política em 1934, reconduzido à Assembléia Legislativa pelo Partido Evolucionista. O golpe do Estado Novo, em 1937, retira-lhe novamente o mandato. Em 1945, com a redemocratização, ingressa na UDN, União Democrática Nacional, e vence sua última eleição, a de suplente de senador.


Sobre ele escreve Nilo Povoas:


A vida pública de Nicolau Fragelli foi um grande exemplo de honestidade política, de fidelidade democrática e de cumprimento do dever. A sua vida particular foi a do chefe de família exemplar, ainda nos moldes patriarcais, amigo leal e médico humanitário. Viveu para a família, para a sociedade e para a Pátria. Morreu nos braços dos filhos que ele soube educar aprimoradamente e cercado da estima e da consideração do vasto círculo das amizades que ele soube cultivar!  

Seu herdeiro político foi seu filho, o advogado José Fragelli, deputado estadual, deputado federal, governador nomeado de Mato Grosso, senador da República e presidente do Congresso Nacional.


FONTENilo Povoas, Galeria dos Varões IlustresVol. II, Fundação Cultural de Mato Grosso, Cuiabá, 1978, PÁGINA 134

FOTO: anuncio reproduzido do Album Graphico de Matto-Grosso, Corumbá, 1914.

domingo, 7 de novembro de 2021

HISTÓRIA! Índio lidera fuga de escravos

Capitaneados por um índio chiquitano de nome André, fugiram da Fazenda Santa Luzia, em Coxim (São José de Herculânia)  em 7 de novembro de 1882, nove escravos, sendo 5 homens e quatro mulheres. O alarme foi dado pelo coronel Antonio Luiz da Silva Albuquerque, chefe político do distrito, em anúncio publicado num jornal de Corumbá:





FONTE: jornal O Iniciador (Corumbá) 31 de dezembro de 1882.

sábado, 6 de novembro de 2021

História! Morre o deputado Aral Moreira, de Ponta Porã

 






Morre no Rio de Janeiro, em 6 de novembro de 1952, vítima de fulminante ataque cardíaco, o deputado Aral Moreira (UDN), representante da bancada de Mato Grosso na Câmara dos Deputados. Político de Ponta Porã, Aral Moreira relevou-se como defensor dos produtores de erva mate na região fronteiriça. 

Em sua homenagem, não houve sessão deliberativa na Câmara, dedicando o expediente aos discursos de exaltação, proferidos por vários parlamentares de todos os partidos, entre eles, Afonso Arinos, Dolor Ferreira de Andrade, João Ponce de Arruda e Flores da Cunha.

Foi também aprovado requerimento dos deputados Filadelfo Garcia (PSD-MT) s Benjamin Farah (PSP-SP) "solicitando inserção em ata de um voto de profundo pesar" à sua família e ao governo de Mato Grosso. Antes de levantar a sessão o presidente da Câmara, Nereu Ramos, em nome da Mesa, associou-se às manifestações de pesar, tendo salientado que "o deputado Aral Moreira era um homem forte, altivo e de atitudes corajosas, inspiradas sempre no desejo de bem servir à Pátria".¹

Aral Moreira nasceu em Ponta Porã no dia 12 de agosto de 1898, filho de Manuel Moreira e Josefina Trindade Moreira.

Bacharelou-se em Direito. Advogado, industrial, comerciante, pecuarista e especialista em cooperativismo, foi subchefe de polícia, promotor público e membro da junta governativa do Instituto Nacional do Mate.

Na eleição de 1950 elegeu-se deputado federal na legenda da UDN, União Democrática Nacional, Assumiu em fevereiro de 1951 e faleceu em pleno exercício do mandato.² Foi substituído pelo primeiro suplente da UDN, Lúcio Medeiros, prefeito de Corumbá.

Aral Moreira deu nome a um município em Mato Grosso do Sul.

FONTE: ¹Correio Paulistano, 7 de novembro de 1952, ²CPDOC da Fundação Getúlio Vargas.

FOTO: reprodução do livro biográfico.



quinta-feira, 4 de novembro de 2021

17 pessoas trucidadas na chacina da baia do Garcez


Usina Conceição, no início do século XX


A polícia do coronel Totó Paes, que aliado aos irmãos Murtinho, expulsou o senador Generoso Ponce, do Estado, cerca em 4 de novembro de 1901, a fazenda Conceição, do primeiro-vice-presidente João Paes de Barros, que acabava de romper com o governo, e prende um grupo de oposicionistas refugiados naquele estabelecimento rural, vizinho da usina Itaicy, de Totó Paes, prende a todos, exceto o vice-presidente que é obrigado a assinar a carta de renúncia, seleciona um grupo que é levado a Cuiabá e separa dezessete que são executados e atirados no lugar conhecido por baia do Garcêz, no distrito Santo Antonio Rio Abaixo, atual Santo Antonio do Leverger. 

O episódio, que se transformou no discurso da oposição, estigmatizou o período Totó Paes, encerrado com a sua morte em 1906. O fato, de repercussão nacional, foi relatado pelo coronel João Paes de Barros, proprietário da usina onde as vítimas foram aprisionadas:

Feita a seleção dos que deveriam ir por terra a Cuiabá, soube que foram todos amarrados de braços para trás pela escolta que os conduzia, seguindo assim a pé até o lugar denominado "Potreiro", onde, junto a uma baia, conhecida pelo nome de "Garcêz", foram um a um fuzilados, saqueados e os cadáveres com os ventres partidos em cruz para não boiarem, lançados na água à voracidade das piranhas, ficando aí postada uma guarda até que desaparecessem.

Da usina foram ouvidos os tiros, pois, em linha reta, é pequena a distância àquela baia, a qual posto que situada na mesma margem em que está a usina, fica-lhe em frente, pela grande curva que forma ali o rio Cuiabá.

Antes da partida da escolta, Eugênio Vital que tinha hábito de andar grande distância a pé, pediu que lhe permitissem seguir a viagem a cavalo, embora preso e devidamente seguro; a esta súplica foi-lhe respondido;- "que não era muito longa a distância a caminhar, que logo chegariam ao fim". E assim foi.

Ao cair da noite parte da escolta, que seguira com os presos por terra, regressara à usina, narrando sem reservas os horrorosos detalhes da carnificina havida na baia do Garcêz.

Generoso Ponce Filho fecha este capítulo da biografia de seu pai, com expressiva dramaticidade literária:

Largo e profundo o rio ali, nunca secara. Mas obediente a Deus, abre no ano seguinte, uma exceção: em 1902 a baía do Garcez secou. 

E dezessete ossadas humanas, alvas sob o sol adusto, atestavam ali o crime inominável.


FONTE: Generoso Ponce Filho, Generoso Ponce um chefe, Pongetti, Rio de Janeiro, 1952, página 311.

FOTO: Album Graphico de Mato Grosso, Corumbá, 1914.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Historia! Morre o governador Frederico Campos



Frederico Campos não chegou a conhecer o Estado
 
Preso em Assunção pelo governo paraguaio quando se dirigia a Cuiabá para tomar posse, o presidente Frederico Campos, de Mato Grosso, sucumbe em prisão no país inimigo, em 3 de novembro de 1867.


Bacharelou-se em Matemática. Assentou praça em 14 de janeiro de 1822. Segundo-tenente em 20 de junho de 1823. Participou da Guerra da Independência, tendo então recebido medalha. Promovido a primeiro-tenente em 12 de outubro de 1824, a capitão em 25 de janeiro de 1828, a major em 13 de setembro de 1837, a tenente-coronel graduado em 7 de setembro de 1842 e a efetivo no posto em 14 de maio de 1844, chegando a coronel em 2 de dezembro de 1855.
Pertenceu ao Corpo de Engenheiros.
Presidiu a Província da Paraíba. Em 12 de novembro de 1864, nomeado presidente de Mato Grosso, viajava, para tomar posse, no paquete “Marquês de Olinda”, que foi atacado e capturado por Solano Lopez, um dos fatos que dariam início à guerra contra o Paraguai. Frederico Carneiro de Campos foi feito prisioneiro.

Comendador da Ordem de Avis e dignitário da Ordem do Cruzeiro. Admitido como sócio correspondente do IHGB em 10 de novembro de 1842.

FONTE: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 2017.

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Campo Grande elege seu primeiro prefeito






Emancipado em 26 de agosto de 1899, o município de Campo Grande elege em 2 de novembro de 1902, seu primeiro intendente geral e a câmara de vereadores. Vencem o pleito: intendente, Bernardo Franco Baís (foto), primeiro vice-intendente, Francisco Mestre e segundo vice, Antônio Francisco de Almeida. Para o conselho de vereadores foram eleitos Manoel Inácio de Souza (Manoel Taveira), João Antunes da Silva, José Viera Damas (Zeca Cassemiro), Jerônimo José Santana (Pepe) e cel. João Correa Leite.

Bernardo Franco Baís – segundo Demósthenes Martins - “italiano de nascimento e comerciante que, apesar de desfrutar do mais elevado apreço e mais amplas simpatias pelo seu trato ameno, cavalheiresco e discreto, mantendo-se acima das questiúnculas, dos mexericos e das disputas pequeninas tão comuns, até hoje, nos nossos acanhados aglomerados urbanos, declinou da investidura que a eleição lhe atribuíra, renunciando ao cargo”.

Em seu lugar assumiu o primeiro-vice-intendente Francisco Mestre.


FONTE: J. Barbosa Rodrigues, História de Campo Grande, Edição do autor, Campo Grande, 1980, página 80

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

História! Morre Ruiter Cunha, prefeito de Corumbá

 






Morreu as 0:28 h no hospital do Proncor de Campo Grande, em 1° de novembro de 2017, o prefeito de Corumbá, Ruiter Cunha de Oliveira, 53 anos.

Filho de Leir Cunha e Oswaldo de Oliveira (o saudoso e popular Rolinha), Ruiter Cunha de Oliveira nasceu em 24 de janeiro de 1964, viveu a infância e a adolescência em Corumbá. O esforço e a dedicação dos pais proporcionaram-lhe a oportunidade de se mudar para o Rio de Janeiro-RJ, onde cursou o antigo segundo grau e a faculdade de Ciências Econômicas, na Universidade Federal Rural do Rio De Janeiro (UFRJ), formando-se em 1985.
Da capital fluminense, voltou determinado a construir uma carreira profissional no Mato Grosso do Sul. Em Corumbá, fez mais uma faculdade: Ciências Contábeis, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), concluindo o curso em 1994. Já em 2002, concluiu pós-graduação em Contabilidade Gerencial, Auditoria e Controladoria pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp).
Com vocação para o setor público, começou a carreira como agente tributário estadual e, em seguida, foi aprovado em concurso público para o cargo de Fiscal de Rendas (Auditor Fiscal), que começou a exercer em 1992. Na Secretaria de Fazenda do Estado, ocupou todos os cargos de carreira, como os de chefe de Agenfa e delegado de Fazenda em Corumbá, chegando a superintendente de Administração Tributária do Estado, em 2003. Também exerceu os cargos de secretário municipal de Finanças de Corumbá, entre 1993 e 1996, e assessor especial de Assuntos Estratégicos do Governo do Estado, em 2004.

Com destacada vivência religiosa e preocupação social, em particular com relação às camadas mais carentes de Corumbá, Ruiter ajudou a fundar, em 2001, o Centro Padre Ernesto de Promoção Humana e Ambiental (CENPER), tornando-se seu primeiro presidente e trabalhando pela continuidade das ações do Padre Ernesto Sassida e da Cidade Dom Bosco.
Rompimento de aorta – Ruiter passou mal na segunda-feira (30). Ele sentiu dores fortes na perna e na barriga simultaneamente, foi levado para a Santa Casa de Corumbá, sendo transferido à Capital no mesmo dia, em uma UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) aérea.
No Proncor de Campo Grande ele passou por um cateterismo, exame que vasculha os vasos sanguíneos em busca de problemas vasculares e no coração. Aqui, ele foi diagnosticado com um aneurisma dissecante da aorta abdominal, que significa o rompimento da artéria, a maior do corpo, nesta região.
Depois de ser estabilizado, o paciente foi levado ao centro-cirúrgico nesta terça-feira (31), onde foi operado pela equipe do cirurgião cardíaco João Jazbik Neto por quatro horas.
Segundo informações da assessoria de imprensa da prefeitura corumbaense, o prefeito sofreu várias paradas cardíacas no pós-operatório e oscilação constante da pressão arterial. Além disso, os medicamentos aplicados não surtiram efeito e o prefeito teve morte confirmada às 0h28.
Ruiter Cunha tinha 53 anos e deixa mulher, Beatriz Cavassa, e os filhos Rodrigo e Rafaela, além da mãe e da irmã.
Vida política - Eleito prefeito em 2004 pelo PT, Ruiter nasceu em Corumbá  e lá fez seu berço político, tanto que foi eleito em 2004 e reeleito em 2008, sendo substituído em 2012 por Paulo Duarte, também do PT.
Antes de político, Ruiter era auditor fiscal do Estado. No período em que José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, foi governador, Ruiter chegou a ocupar o cargo de superintendente de Administração Tributária.
Em 2014, ele foi candidato a deputado estadual, tendo recebido 18.502 votos. A 26ª posição nas urnas garantiu a ele a primeira suplência da coligação. Porém, em 2015, alegando perseguição no partido, Ruiter se desfiliou do PT e foi parar o PSDB, onde contou com o apoio do governador Reinaldo Azambuja.
Com o apoio tucano, Ruiter conseguiu ser eleito em 2016 prefeito de Corumbá pela terceira vez. Ele derrotou nas urnas justamente seu ex-correligionário Paulo Duarte, que também saiu do PT, mas foi para o PDT. Esse era o primeiro ano de Ruiter à frente do novo mandato como prefeito de Corumbá, tendo como vice-prefeito Marcelo Iunes (PTB).

FONTE: Campo Grande News e Correio de Corumbá