segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

GUERRA DO PARAGUAI! Exército e população abandonam Miranda



                                                                         REPRODUÇÃO ALBUM GRAPHICO DE MATO GROSSO

Salobra, primeiro destino dos fugitivos de Miranda

Ofício de 1º de janeiro de 1865, do tenente-coronel Dias da Silva, comandante do quartel de Miranda, por ocasião da invasão do Brasil por forças paraguaias, descreve a fuga dos brasileiros para Coxim e Santana do Paranaíba, antes da chegada do inimigo:

...e constando-me que o inimigo se achava já a poucas léguas de marcha para a vila. De modo a não dar lugar a delonga alguma, retirei-me com a pequena força do Batalhão de Caçadores, mandando antes ordem para a Salobra (...) para de lá seguir o corpo e algumas praças com direção à estrada da fazenda do Daboco (aliás Taboco) a encontrar-se comigo. Sendo forçado a abandonar os arquivos e bagagens dos corpos por falta absoluta de condução para tudo; o que tem ocasionado a maior penúria e toda sorte de privações por se haver retirado toda a força com a roupa do corpo e a maior parte dos oficiais a pé com suas famílias.


Mais adiante, o oficial brasileiro lastima a ação impetuosa do inimigo e o estado geral da tropa sob seu comando:

A força que tomou a colônia de Miranda vem arrasando essa parte da fronteira até a vila do mesmo nome, e a que tomou a dos Dourados seguiu pela Serra de Maracaju, vindo pelo Brilhante até ao Taquaruçu com o mesmo sistema de delapidação. No estado de nudez e miséria em que se acha a pequena força que comigo se retira, sigo até a vila da Santana do Paranaíba a fim de esperar ali as determinações de V.Exa. a quem com toda insistência solicito alguns recursos pecuniários e de fardamento que me habilitem a mover-me com presteza para onde V. Exa. entender conveniente.


FONTE: Jorge Maia, A invasão de Mato Grosso, Biblioteca do Exército Editora, Rio, 1964, página 204.

domingo, 30 de janeiro de 2022

Gripe espanhola em Cuiabá




Santa Casa de  Misericórdia de Cuiabá

A gripe espanhola que avassalou a Europa e capitais litorâneas do Brasil, chega a Cuiabá e passa sem causar estragos de pandemia, mas deixando um rastro de tragédia, conforme dados publicados em 30 de janeiro de 1919 pelo jornal governista, o Matto-Grosso, que tenta minimizar a situação:

É que os germes da infecção haviam, sem dúvida, aportado à nossa capital enfraquecidos na sua virulência, pela maior demora na viagem e pela desinfecção rigorosa que as embarcações sofriam no Posto do Amolar.

De 15 a 30 de dezembro chegaram algumas outras lanchas de Corumbá e trouxeram novo contingente do vírus, a reforçar a quota do que havia. Então, estalaram muitos outros casos, de sorte que o ano findou, entre nós, oferecendo a epidemia o seu maior paroxismo. Podem calcular -se em 2 a 3 mil casos, os que se contaram até 31 de dezembro. Nos quarteis do 39° e 
da Força Pública cairam doentes quase todos os soldados e muitos oficiais. No hospital da Santa Casa internaram-se algumas dezenas de enfermos. Várias famílias foram atacadas em seu domicílio. Mas foi tudo - e ainda assim com uma benignidade muito confortadora: onze óbitos apenas nos enlutaram em todo o mês de dezembro, correndo por conta da chamada gripe epidêmica.

Cabe salientar agora o papel representado nesta quadra angustiosa pelos postos de socorros, criados durante este mês e funcionando ativamente, a fornecer medicamentos e víveres a todos que deles precisavam, minorando extraordinariamente a situação difícil da pobreza.

É de justiça salientar o nome dos dois sacerdotes beneméritos que nesses postos tão humanitários serviços prestaram: padre Manoel G. de Oliveira e frei Ambrósio Daydée.

Na primeira quinzena de janeiro, estabeleceu-se o período de estado da epidemia, mantendo-se ela com a média de um óbito por dia. Depois entrou o mal em franco declínio e agora, ao terminar o mês, são rarissimos casos novos aparecidos e nenhum falecimento por essa causa se tem mais verificado.

FONTE: jornal O Matto-Grosso (Cuiabá), 30 de janeiro de 1919.

sábado, 29 de janeiro de 2022

Motim em quartel do exército em Corumbá

 



                                                                                                                                      REPRODUÇÃO ALBUM GRAPHICO DE MT

Tendo por justificativa o atraso no pagamento do pessoal, por seis  meses, subleva-se em 29 de janeiro de 1919, o 13° Regimento de Infantaria do Exército, em Corumbá. Valendo-se do apoio da força policial, o comandante restabeleceu a ordem no quartel. O fato foi destacado pelo presidente do Estado, dom Aquino Correa, em sua mensagem anual à Assembleia Legislativa, consoante nota dirigida pelo comando da Circunscrição Miilitar ao chefe do executivo estadual:

"Avisado às 11 horas de 29, dum movimento sedicioso, dirigi-me ao quartel e de caminho mandei meu assistente comunicar o fato ao comandante do 2° Batalhão Policial, solicitando-lhe o apoio de que viesse a necessitar. Com inexcedível boa vontade encontrei moral e material apoio, o que muito o enaltece, e me animou ao restabelecimento da ordem e da disciplina naquela unidade do Exército. Recomendo-vos meus vivos louvores ao senhor comandante, oficiais e praças dessa unidade da Força sob vosso digno comando, com sinceros agradecimentos. - Cordiais saudações. (A) Tenente Coronel Heliodoro Miranda".

O movimento foi debelado com a prisão de praças e oficiais rebelados, no QG da polícia e a quitação dos soldos pelo Ministério do Exército.

FONTE: Presidente D. Aquino Correa, Mensagem à Assembleia Legislativa, 1919.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

HISTORIA! Assassino de juiz morre em confronto com a polícia





O fazendeiro Antonio Malheiros, que em 1927, feriu mortalmente o juiz Barnabé Gondin, de Corumbá, é morto em combate com uma volante da polícia, em 28 de janeiro de 1942 em sua propriedade no município de Bela Vista. A notícia foi dada na primeira página do jornal O Estado de Mato Grosso, em Cuiabá:

A Delegacia Especial de Campo Grande enviou à Bela Vista, uma escolta, comandada pelo cabo Aleixo, para efetuar a prisão de Antonio Malheiros, assassino do saudoso juiz Barnabé Gondin, em 1926 (?) em Corumbá, e protetor do grupo dos Baianinhos, auxiliando-os no bárbaro assassinato do ten. Rodrigues Peixoto. Às cinco horas da manhã de 28 do corrente a escolta defrontou-se com Malheiros, que resistiu à prisão, ferindo gravemente, com três tiros o cabo Aleixo e, levemente, com dois tiros, o soldado Feliciano, que também fazia parte da escolta.

O terrível facínora foi, então, alvejado pela escolta e teve morte imediata, tendo aquela Delegacia tudo providenciado para que nada faltasse aos soldados feridos, que já se acham, aliás, fora de perigo.


FONTE: jornal O Estado de Mato Grosso (Cuiabá), 1° de fevereiro de 1942.

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

HISTORIA! Nasce Janio Quadros

 



                        Publica-forma da certidão de nascimento de Jânio Quadros


Filho do farmacêutico Gabriel Quadros (gerente da Farmácia Royal, de propriedade do médico Vespasiano Barbosa Martins) e Leonor Silva Quadros, nasce em Campo Grande, em 25 de janeiro de 1917, Jânio Quadros. Ainda na infância mudou-se da cidade. Formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo, em 1939. Iniciou a carreira política em 1948, como vereador na capital paulista, pelo Partido Democrata Cristão. Em 1951 elege-se deputado estadual. Em março de 1953 vence a eleição para a prefeitura de São Paulo. Em 3 de outubro de 1954 é eleito governador paulista, na sucessão de Lucas Nogueira Garcez. Em 1959 elege-se deputado federal pelo Estado do Paraná. Em 3 de outubro de 1960 vence o general Teixeira Lott e sucede Juscelino Kubitschek na presidência da República, onde permanece apenas sete meses, renunciando, tendo como justificativa pressão de forças ocultas. Com direitos políticos suspensos pela ditadura militar, retornaria à vida pública em 1985, como prefeito de São Paulo, derrotando Fernando Henrique Cardoso. Morreu em São Paulo em 16 de fevereiro de 1992. 



FONTE: Guenka Kokichi, Um japonês em Mato Grosso, edição do autor, São Paulo, 1958, página 152 e www.históriaonline.pro.br

FOTO: acervo de Luca Maribondo 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

GUERRA DO PARAGUAI! Tropas brasileiras chegam a Nioaque

 


Nioaque antiga. Uma cidade com as marcas da guerra

De Miranda onde estavam acampadas desde o início do ano anterior, as tropas brasileiras de reocupação da fronteira chegam a Nioaque em ruínas, sob o comando do coronel Camisão. A chegada, em 24 de janeiro de 1867, e os primeiros dias na vila são detalhados pelo tenente Taunay, do corpo de engenharia:

Ali chegamos às 11 horas de 24 de janeiro de 1867, acampando, em ordem de batalha, com a direita encostada à margem direita de Nioac; e a esquerda à mata de Orumbeva. Instalaram-se o quartel general e o trem à retaguarda, no local da vila, ocupando o hospital as pequenas casas salvas do fogo e um grande galpão que às pressas se construiu.
Serviu a nave da igreja – de onde se retirara tudo quanto ainda havia de símbolos do culto – de depósito ao cartuchame e a todas as munições.


Ergueram-se, de todos os lados, ranchos de palha, gurbis como lhes chamam na Argélia, e, dentro em pouco, oficiais e soldados ali se acharam tão bem instalados quanto as circunstâncias o permitiam. Um bem-estar, desde vários meses ausente, o renovamento da existência, um sentimento de plenitude de vida a todos nós exaltava, e em todos se transmutava na ânsia de sobressair, graças a algum brilhante feito d’armas que chamasse a atenção do país para uma expedição desde muito inativa. Reinavam no acampamento a esperança e a alegria.


FONTE: Taunay, A Retirada da Laguna, (16a. edição brasileira) Edições Melhoramentos, São Paulo, 1963,  página 37 

sábado, 22 de janeiro de 2022

Dom Aquino assume o governo do Estado

 




Consequência de amplo acordo entre situação e oposição, depois da Caetanada, que resultou na renúncia do presidente Caetano Manoel de Faria e Albuquerque e na intervenção federal que durou um ano, assume o governo, em 22 de janeiro de 1918, o bispo de Cuiabá, Dom Francisco de Aquino Correa, no que foi chamado de governo da conciliação.¹

O Matto-Grosso, principal órgão da imprensa no Estado, publicou reportagem completa sobre o dia da posse do novo presidente:



Desde o alvorecer da manhã de 22,apenas se teve aviso da passagem da lancha Iguatemi em S. Antonio do Rio Abaixo, toda a Cuiabá se pôs em preparativos para receber carinhosamente D. Aquino, sabedores como eram todos de que S. Exa. Para aqui se encaminhava a bordo daquela embarcação.



As comissões incumbidas de irem ao encontro do querido eleito do povo mato-grossense puseram-se em ação, e às 9 ½ descia o Cuiabá a lancha 13 de Junho da Secretaria da Agricultura, levando a seu bordo a comissão central encarregada da recepção a D. Aquino, composta dos srs. Capitão tenente Paes de Oliveira, coronéis João Celestino, Gurgel do Amaral, Manoel Moreira, drs. Campos Junior e Geonísio de Mendonça, representantes do interventor federal; D. Antonio Malan por si, e padres Batista Couturon e Colbachini representando a Congregação Salesiana do Estado.

A bordo da “Rosa Bororo” desceu o coronel Alexandre Addor, intendente geral do município, acompanhado de diversos cidadãos da elite cuiabana, dentre eles o capitão Romão da Silva Pereira, representante da guarnição federal desta cidade.

Assim organizada a embaixada que ia ao encontro de D. Aquino, seguiu improvisada flotilha até um pouco abaixo do Poço Grande onde foi encontrada a Iguatemi que sulcava, garbosamente embandeirada as águas barrentas do Cuiabá.

Passando daí em diante a acompanha-la os transportes que tinham ido ao seu encontro, seguiram-na até a usina do sr. Joaquim Martins, onde as diversas comissões daqui enviadas transbordaram para o Iguatemi, apresentando então a D. Aquino as boas-vindas  e votos de felicidade pelo seu governo.,

Prosseguindo os itinerantes em demanda da cidade, aqui desembarcaram por volta de meio dia, sendo D. Aquino alvo das mais estrepitosas palmas ao pisar na terra cuiabana.

Ao desembarcar em companhia do dr. Camilo Soares, que o fora trazer a bordo da Iguatemi, foi saudado pelo cel. Alexandre Magno Addor que em nome do governo municipal apresentou boas vindas à S. Exa.

Do seio do povo dirigiu a palavra ao recém vindo, o sr. Tomé Ribeiro.

O CORTEJO

Depois de recebidos por D. Aquino os cumprimentos de diversos representantes dos partidos políticos do Estado, de congregações religiosas e da imprensa, organizou-se imponente cortejo que respeitosoe vivamente possuído de entusiasmo, acompanhou S.Exa. em demanda da residência oficial.

Ao passar o virtuoso prelado em frente a a igreja de S. Gonçalo, de uma tribuna ali improvisada, saudou-o um inteligente aluno do Liceu Salesiano, sendo logo substituído pelo delegado da sociedade de S. Luiz Gonzaga que apresentou em nome de seus consócios votos auspiciosos de boas vindas a Dom Aquino.

Em sinal de estima para com este futuroso rebento da estirpe cuiabana, discursou também enaltecendo-lhes as virtudes morais e cívicas e augurando dias venturosos no seu governo a gentil senhorita Alda de Oliveira.

Falou por último, abundando nos mesmos conceitos dos oradores que o precederam o sr. João Nunes.

Continuando seu caminho o préstito cívico teve que parar novamente à praça da República para ouvir o ilustre dr. José Mesquita, que ali pronunciou um substancioso discurso, saudando o presidente eleito em nome do povo mato-grossense.

Abafadas pelas mais estrepitosas palmas as últimas palavras do orador, o préstito que cada vez mais se avolumara atravessou por entre duas alas formadas pelas alunas de todas as escolas e colégios públicos e particulares de Cuiabá, tendo D. Aquino feito o trajeto da República até ao palacete de sua nova residência, debaixo de uma verdadeira chuva de flores que lhe arremessava a petizada vivaz de nossas escolas.

NA RESIDÊNCIA PRESIDENCIAL

Chegando D. Aquino Correa no palacete da rua Pedro Celestino onde está residindo, aí saudou-o pela Assembleia Legislativa o sr. desembargador Trigo de Loureiro que em nome da corporação política a que pertence, hipotecou ao governo que se ia iniciar, todo o apoio e colaboração do poder legislativo estadual.

DOM AQUINO FALA AO POVO DE CUIABÁ
Depois de ouvida atentamente a palavra do representante da Assembleia Legislativa, ficou a multidão que concorrera às festas da recepção a D. Aquino, sôfrega por ouvir-lhe a palavra sempre fluente e a frase sempre burilada.

S. Exa. Começou o seu discurso por agradecer nominalmente a todos os que o haviam saudado ao chegar a esta cidade, em nome individual ou por mandato e terminou por agradecer em palavras repassadas de gratidão e sinceridade o carinho com que vinha sendo distinguido.

Na sua bondade em tudo revelada, não esqueceu nem mesmo o concurso prestado pelos selvícolas à sua brilhante recepção.

Perorando acentuou o desprendimento dos partidos políticos do Estado aceitando a sua candidatura à Presidência, para se firmar um regime de paz e de concórdia, e enalteceu a colaboração dos drs. Wenceslau Brás e Camilo Soares, pela vitória desta primeira etapa na política de Mato Grosso.

As últimas palavras de S.Exa. foram acompanhadas dos mais expressivos aplausos, findos os quais dispersou-se a massa popular

O COMPROMISSO DO PRESIDENTE ELEITO E DOS SEUS SUBSTITUTOS LEGAIS

Às 17 horas penetrou no edifício onde funciona a Assembleia Legislativa, que estava reunida em sessão. S.Exa. D. Aquino Correa, que foi ali recebido pelos deputados: drs. Eurindo Neves, Rangel Torres e cel. Pilades Rebuá, que o levaram a tomar assento à esquerda do presidente da Assembleia, o vice em exercício, cel. Faria Albernaz.

Para o fim de prestar o compromisso do cargo de 1° vice-presidente do Estado, compareceu ao passo da Assembleia o dr. Antonio Ferrari, bem como o capitão Paes de Oliveira, para fazê-lo ao de 3°.

Prestado por S.Exa. D. Aquino o compromisso e pelos seus substitutos constitucionais já referidos, ouviu-se demorada salva de palmas, logo que o presidente da Assembleia proclamou empossados os cidadãos compromissados.

Ao se retirar D. Aquino do edifício da Assembleia, fora como acontecera ao penetrar ali, recebido com as continências de estilo, prestadas por uma companhia do 1° Batalhão da Força Pública, comandada pelo cap.Benedito Augusto de Carvalho e pelo esquadrão de cavalaria.

Tanto na ida como em seu regresso teve uma concorrência numerosíssima no seu acompanhamento.

NO PALÁCIO DO GOVERNO

De volta da Assembleia D. Aquino se dirigiu ao palácio do Governo onde foi recebido pelo dr.Camilo Soares e seus auxiliares.

Este, na qualidade de interventor federal, leu perante S. Exa. uma exposição de sua gestão no período em que aqui desempenhou funções governamentais e terminou por apresentar a D. Aquino Correa, votos de felicidade pelo seu governo.

Respondendo S. Exa. às palavras do dr. Camilo Soares, disse que o seu programa de governo podia se reduzir a esta trilogia: paz, economia e trabalho..

Referindo-se à primeira das facetas do plano traçado, disse, precisamos ter uma paz generalizada e completa, isto é, mantê-la entre o Estado e os poderes centrais da República+, cultivá-la entre si os poderes constituídos do Estado, e procurarem-na de modo eficiente os partidos políticos, conservando-se mesmo cada um em seu posto e independente de fusão.

S. Exa. encareceu depois as conveniências de rigorosa economia em seu governo para o que disse muito contar com o poder legislativo, e, por último apelou para todas as forças vitais do Estado, para, sob os auspícios da concórdia, da economia e do trabalho promovermos o progresso e o engrandecimento de Mato Grosso.

Retirando-se S. Exa.do palácio do Governo, sendo-lhe prestadas as continências da pragmática, dirigiu-se à sua residência acompanhado de crescido número de autoridades e amigos.²
 


FONTE: ¹Rubens de Mendonça, História do Poder Legislativo de Mato Grosso (volume I), Assembleia Legislativa, Cuiabá, 1967, Página 111. ²O Matto-Grosso, (Cuiabá) 24 de janeiro de 1918.
 
 

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

HISTORIA! A morte de Pedro Celestino, governador e senador de Mato Grosso






Aos 72 anos, morre em Petrópolis, no Rio de Janeiro, em 21 de janeiro de 1932, Pedro Celestino Correa da Costa, deputado estadual constituinte, vice-presidente do Estado de Mato Grosso, presidente do Estado e senador da República. Sua morte é lamentada e sua obra revista no editorial do jornal católico, A Cruz, de Cuiabá:


O grande mato-grossense, cujo desaparecimento constitui, nesta hora, sobretudo, um golpe dos mais dolorosos para a nossa terra, nasceu a 5 de julho de 1860, no sítio do Bom Jardim, distrito de Serra-Acima.

Pertencente a uma ilustre linhagem, que deu a Mato Grosso muitas figuras de destaque na administração, na política e no domínio da pura inteligência, foram seus pais o capitão Antonio Correa da Costa e D. Inês Maria Luiz Correa da Costa (da família Souza Prado).

Formado em Farmácia, em 1881, abriu em Cuiabá, uma “botica” que, graças à sua tenacidade, competência e amor ao trabalho, se tornou dentro em pouco a primeira no gênero entre nós.

Ingressando na política foi, logo após a proclamação da República, eleito deputado à Assembleia Constituinte, da qual é o penúltimo membro que desaparece, somente sobrevivendo o cel. Virgílio Alves Correa.

A sua atuação na política e em cargos de administração pública o impôs logo a confiança e estima de seus concidadãos, de cujos direitos se fez sempre o desinteressado paladino nas mais difíceis e às vezes trágicas conjunturas. Elevado à vice-presidência do Estado, com Manoel Murtinho, em 1891, foi novamente escolhido para esse cargo em 1907, ao lado de Generoso Ponce, a quem lhe coube substituir, ao cabo de um ano de governo. O que foi a sua diretriz no Palácio Alencastro, dí-lo a consciência dos contemporâneos, a atestar o seu tino financeiro, o seu patriótico desprendimento e, acima de tudo, a sua inatacável probidade.

Deve-lhe Mato Grosso, principalmente no departamento de Instrução Pública, os mais assinalados serviços, levados a efeito nesse primeiro período governativo. Após as lutas políticas de 1916-1917, coube-lhe representar o Estado no Senado Federal, donde o foram buscar seus conterrâneos para entregar-lhe novamente o governo, em sucessão ao arcebispo Aquino Correa, cuja presidência  se finalizara pela  fusão dos partidos, realizando dessa forma, o programa patriótico de paz e união que formara o escopo do governo do eminente prelado cuiabano. Essa união só de pode fazer, no momento, em torno do nome consagrado e respeitável de Pedro Celestino, que congregou em redor de si, como uma bandeira de honestidade e de patriotismo, os elementos mais ponderáveis da política mato-grossense.

A segunda administração Pedro Celestino é de ontem e dela basta dizer que, além da obra de cimentação da paz e da concórdia, conseguiu ainda o egrégio patrício a reconstrução financeira do Estado, abalado em consequência das lutas partidárias e da depressão enorme da receita, em 1921, legando-nos vários e importantes melhoramentos, alguns acabados, como a estrada da Chapada, velha aspiração cuiabana, que lhe coube realizar, e outros iniciados, como o serviço de iluminação da capital pela força motriz do Rio da Casca.

Teve a auxiliá-lo nessa segunda fase a competência, a energia e a aptidão invulgar do dr.V. Correa Filho, seu secretário Geral do Estado, figura de eleição no meio intelectual e administrativo de Mato Grosso, cujo nome constitui uma garantia de confiança, sendo, como é, um dos poucos em que Mato Grosso pode e deve espera para sua evolução e o seu progresso.

Enfermado, já ao final do quadriênio, passou o governo ao 1° vice-presidente, dr. Estevão Correa, que prosseguiu e ultimou o período administrativo, em perfeita unidade de vistas e de ação com o grande mato-grossense, o que vale dizer, trabalhando patrioticamente pela nossa terra.

O maior serviço prestado a Mato Grosso por Pedro Celestino foi, porém, não há duvidar, esse exemplo vivo de honradez e trabalho, de abnegação e amor pátrio, de carinho pelas nossas coisas e discernimento no estudo dos nossos problemas, de pureza e inquebrantabilidade  na defesa do patrimônio moral e material do Estado, constituindo-se barreira inexpugnável aos delapidadores da nossa honra e das nossas riquezas.

O “caso Antonina” é típico e não há mister evocar outros.

Criou, por isso, como é natural, inimigos rancorosos e adversários implacáveis. Essas odiosidades são, entretanto, daquelas que honram e enobrecem o homem.

Terminado o seu governo, foi, em 1927, reconduzido, pelo voto dos seus paisanos, à Câmara Alta, onde se conservou até que a Revolução de Outubro de 1930 dissolvesse o Poder Legislativo. Partidário da Aliança Liberal desde a sua constituição, dirigiu nessa ocasião, memorável manifesto aos seus amigos. Vitoriando o movimento revolucionário, nada, entretanto, ambicionou, no seu desprendimento assaz conhecido, no seu nobre e sadio idealismo, que só visava o bem coletivo. Tendo feito uma carreira política e administrativa de meio século, jamais se lhe apontou um ato menos digno ou inspirado em motivos que não fossem os que visam o engrandecimento de sua terra. Sofreu, com superioridade, com estoicismo, as mais ingratas campanhas. Tudo levou de vencida. E hoje, ao descerem-lhe ao seio maternal da terra os despojos venerandos, um sentimento de tristeza e de pesar invade todos os corações dos mato-grossenses patriotas e sensatos, ante o vácuo que, no cenário da administração e da política, deixa o desaparecimento do grande filho da terra cuiabana.

O coronel Pedro Celestino foi casado com D. Constança Novis Correa da Costa e, enviuvando-se, consorciou-se com a sua cunhada D. Corina Novis Correa da Costa. Do primeiro casal deixou os seguintes filhos: dr. Clóvis Correa da Costa, médico, residente no Rio de Janeiro, drs. Alvino Correa da Costa, farmacêutico e Ytrio Correa da Costa, engenheiro, residentes em Campo Grande; d. Aline, casada com o tenente-coronel Romão Veriano da Silva Pereira, d. Edith, casada com o dr. Virgílio Alves Correa Filho e d. Maria Constança, casada com o cel. José Alves Ribeiro Filho.
Das segundas núpcias deixou os seguintes filhos: dr. Fernando Correa da Costa, médico, residente em Campo Grande, tenente Pedro Celestino Correa da Costa, Paulo Correa da Costa, contador, João Batista, estudante e senhorinha Inês Maria Luiza Correa da Costa.

Seu principal herdeiro político foi o filho Fernando Correa da Costa, médico que, mudando-se para o Sul do Estado em 1927, fez carreira com prefeito de Campo Grande (1947), governador do Estado (1950 e 1960) e senador da República (1966). Seu outro filho, Ytrio Correa da Costa, foi prefeito nomeado de Campo Grande e deputado federal. A mais recente representante da família na política foi a deputada federal Tereza Cristina Correa da Costa (2014-2023) e ministra da Agricultura durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (1919 - 1922).



FONTE: A Cruz (Cuiabá), 31 de janeiro de1932.

FOTO: acervo do governo do Estado de Mato Grosso.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

HISTORIA! Inaugurada ponte Cuiabá-Várzea Grande



O governo do interventor Júlio Müller entrega à população da capital mato-grossense em 20 de janeiro de 1942, a primeira ponte de concreto sobre o rio Cuiabá, ligando esta cidade ao futuro município de Várzea Grande. A ponte, estrutura leve de cimento armado tem o comprimento total de 224 metros, sendo um vão central de 40 metros para passagem da navegação, largura de 6,80 metros, dando uma chapa de rolamento para dois veículos e passeio para pedestres. Carga admissível para o trem tipo de 20 toneladas nos dois sentidos.

Era prefeito de Cuiabá Manoel Miraglia, que decretou feriado municipal nesse dia da inauguração da ponte. A comissão promotora dos festejos de inauguração, à frente Waldo Olivarria, era composta por Eugênio Curvo, Aristides Pompeu Campos, Licínio Monteiro da Silva, Manoel Horácio e João Maia.

O ponto culminante da solenidade de inauguração foi o discurso proferido pelo interventor Júlio Müller, onde o governante ressalta a importância de obra e enaltece a figura do ditador Getúlio Vargas e seu Estado Nacional:

Senhores

Não me surpreendeu o movimento espontâneo dos meus conterrâneos e amigos, no sentido de se denominar Júlio Muller a ponte que mandamos construir sobre o lendário rio Cuiabá. Conheço a gente mato-grossense e tenho a veleidade de conhecer os seus sentimentos, as suas aspirações, o seu coração generoso eautruísta.

Aliás, não é necessário que eu vô-lo afirme: governando o Estado por honrosa delegação do grande e benemérito Chefe Nacional, presidente Getúlio Vargas, procuro estar em contato direto com os meus governados, resolvendo sempre em perfeita comunhão de vistas os problemas cujas soluções vêm sendo reclamadas por todos.

Daí a construção do Grupo Escolar “Afonso Penas”, de Três Lagoas; daí a construção do quartel, penitenciária e a criação do Liceu Ginasial de Campo Grande; os estudos do serviço de luz de Cáceres; o encaminhamento do Ministério da Viação e Obras contra a seca, do memorial da população poconeana; os auxílios em dinheiro a quase todos os municípios do Estado; a reconstrução de estradas; a construção de novas e importantes rodovias; o sem número de pontes construídas e em construção em todos os quadrantes do Estado, destacando-se esta que reclamáveis há tantos anos e cuja construção se fazia tão necessária ao desenvolvimento de Cuiabá e de toda região Oeste de Mato Grosso.

Aqui, entre nós, se encontra o advogado Estevão de Mendonça que, juntamente com o saudoso Ferreira Mendes, na sua juventude, através das colunas dos jornais da época, sugeriu ao governo de então a necessidade de se construir a ponte sobre o Cuiabá. Pois bem, meus amigos, a atitude daqueles jovens mato-grossenses fora explorada pelos políticos alegando-se que eles queriam tirar o ganha-pão do concessionário da barca-pêndulo que era um correligionário político.

Como evoluímos nestes últimos anos!...

Relembrando esse fato eu quero tão somente render nossas homenagens àqueles ilustres mato-grossenses e demonstrar-vos, mais uma vez de modo insofismável, as vantagens do regime atual.

Ontem, sob o império da política, com o predomínio dos partidos, o interesse coletivo, o interesse de um povo inteiro era postergado para não se descontentar um amigo político, um único correligionário. Hoje, sob a égide do Estado Nacional sobrepõe-se o interesse público aos interesses particulares e, esta afirmação é tão oportuna, tão verídica que aqui nos encontramos para a inauguração desta ponte, um sonho que se tornou realidade!

Se quereis mais uma prova do acatamento à vontade popular, do predomínio da vontade do povo no novo regime: aí está esculpido em bronze, a denominação que destes à ponte contra a vontade do próprio governo, que a mandou construir, e, entretanto diante do imperativo dos vossos desejos só restou a esse Governo uma alternativa: acatar a vossa deliberação.

Meus amigos,

Por ocasião do início da construção desta ponte eu tive oportunidade de vos falar que a obra era vossa. Repito essa afirmação, neste momento, para pedir a cada habitante deste rincão maravilhoso da pátria, que cuide, que zele desta ponte, para conservá-la sempre nova, sempre útil a todos. E nesta hora de contentamentos e emoções profundas, volvamos o nosso pensamento ao Chefe, pedindo a Deus que lhe dê vida longa para maior grandeza do Brasil.



FONTE: O Estado de Mato Grosso (Cuiabá) 21 de janeiro de 1942.

FOTO: acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

HISTORIA! Morre o marechal Rondon

 



                        


Aos 92 anos falece no Rio de Janeiro, em 19 de janeiro de 1958, o marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, patrono brasileiro das comunicações. Mato-grossense de Mimoso, foi o responsável pela extensão da rede telegráfica de Cuiabá a Bela Vista, passando por Coxim, Aquidauana, Miranda, Corumbá, Forte Coimbra e Porto Murtinho e Norte do Brasil. Fundou e foi o primeiro diretor do Serviço de Proteção ao Índio. Em Campo Grande, uma das principais ruas da cidade, tem o seu nome. A maior cidade do Sul de Mato Grosso, Rondonópolis, também venera sua personalidade. Rondon é o único brasileiro homenageado com a denominação de um Estado: Rondônia.¹

O presidente Juscelino Kubtscheck, ao tomar conhecimento de seu falecimento, fez a seguinte manifestação:

O marechal Rondon é o símbolo dos pioneiros que construíram o Brasil. O seu nome está na consciência dos brasileiros e no mapa nacional, onde Rondônia o imortaliza. Bandeirante dos sertões, amigo desvelados dos índios, militar que teve no coração a causa da integridade do país, sacrificou o melhor de sua vida e a luz de seus olhos pelo Brasil humilde e longínquo, onde queria que a cultura substituísse pacificamente a selvageria primitiva. A sua obra é uma glória do povo. A sua biografia pertence à humanidade.² 


FONTE: ¹Rubens de Mendonça, Dicionário Biográfico Matogrossense, edição do autor, Cuiabá, 1973, página 145. ²O Jornal (Rio de Janeiro), 21 de janeiro de 1958.

VIDEO: Trecho de entrevista do marechal Rondon à televisão.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

HISTORIA! Circula o primeiro jornal de Corumbá




Inicia em 18 de janeiro de 1877, circulação em Corumbá o primeiro jornal editado nessa cidade. Trata-se de O Iniciador, órgão "comercial, noticioso e literário, impresso em quatro colunas, era de propriedade e redação de Silvestre Antunes Pereira Serra, tendo como diretor técnico e editor o cidadão Manuel Guimarães.

Abria a primeira coluna o calendário da semana, com indicação das fases lunares. O Iniciador era impresso em prelo Marinoni (aliás o primeiro introduzido em Mato Grosso) tendo sido todo o material tipográfico adquirido em Assunção do Paraguai".



FONTEEstevão de Mendonça, Datas Matogrossenses, (2ª edição) Governo de Mato Grosso, Cuiabá, 1973, página 50.

HISTORIA! Assassinado Silva Manso, o leão de Cuiabá

 




É assassinado em sua fazenda em Campinas, em 18 de janeiro de 1848, o médico e político Antonio Patrício da Silva Manso. Nascido na vila de Santos, em 1778, mudou-se em seguida para Itu e fixou-se na vila de São Carlos (Campinas), onde dedicou-se inicialmente às artes plásticas, partindo depois para a botânica e à medicina. Em 5 de agosto de 1820, conseguiu de Dom João VI carta licença para exercer a medicina curativa. Em 1821 é nomeado cirurgião-mor da província de Mato Grosso, "para onde seguiu em trabalhosa viagem, à sua própria custa, pois que também não percebia vencimento algum do sobredito cargo, do qual prestou juramento em Cuiabá a 4 de março de 1823".

Adquiriu grande prestígio "por sua competência, por sua atividade e por sua dedicação a todas as classes sociais, desde logo teve de envolver-se na política da remota província". O primeiro cargo que exerceu em Mato Grosso foi o de secretário de governo, pouco depois da proclamação da independência do Brasil. Foi também membro do governo da província e único representante de Mato Grosso na câmara temporária do Império, na terceira legislatura (1834 - 1837). 

O que o tornou célebre em todo o Brasil, entretanto, foi a sua posição política, como militante liberal. Com a abdicação de D. Pedro I e a ascensão de Feijó à regência, o pais entrou em verdadeira efervescência revolucionária, com a polarização entre os brasileiros natos, que defendiam o novo governo e os portugueses (chamados adotivos) que pleiteavam a volta do imperador. Militante dos brasileiros natos, Silva Manso, a exemplo do que aconteceu em outras províncias, criou e passou a presidir a Sociedade dos Zelosos da Independência do Brasil em Mato Grosso, entidade que congregava os nativos na luta contra os portugueses, acusados de monopolizarem as atividades empresariais da cidade e exercerem influência política hegemônica no governo.

Mesmo havendo deixado Cuiabá antes da Rusga, para tomar posse como deputado, no Rio de Janeiro, seu nome esteve diretamente ligado aos exaltados, responsáveis pela noite sangrenta de 30 de maio de 1834, o que lhe impediu de voltar a Cuiabá ao final de seu mandato em 1837, preferindo fixar residência em Campinas. 

Em Mato Grosso, consagrou-se com o epíteto "leão de Cuiabá".


FONTE: Basílio de Magalhães, Biografia de Antonio Luiz Patrício da Silva Manso, Arquivo do Museu Nacional, Rio de Janeiro, 1909, volume XXII.