Tendo deixado o porto Canuto, no rio Aquidauana, no último dia 17, de volta da retirada da Laguna, em 20 de junho de 1867, Taunay chega ao lugar já conhecido como Campo Grande, cujas coordenadas são as mesmas de onde hoje está localizada a vasta planície que começa em lugar que seria habitado a partir de 1872 e em 1977 se transformaria na capital do Mato Grosso do Sul. A descrição do cronista da guerra do Paraguai, começa no sítio de um dos únicos moradores de todas as redondezas, o mineiro Motta, nas imediações de Terenos:
Tomando uma trilha à esquerda, dirigimo-nos à palhoça do Motta, situada a légua e quarto do nosso ponto de partida. O caminho é nesta parte péssimo; profundos atoleiros dificultam muito o trânsito, aumentando-se cada vez mais os embaraços da passagem pela frequência de carros e tropas que demandavam as forças. Acha-se o rancho do Motta situado numa planície acidentada, que belos grupos de buritis tornam realmente encantadora. A umidade exsuda de todos os pontos e manifesta-se não só pela presença daquelas palmeiras como por um viçoso capão de pindaíbas.
(...) Paramos no Motta, dando uma boa ração de milho aos animais. Às 2,30 horas da tarde seguimos viagem, indo, depois de duas léguas, entrar na estrada geral, da qual nos havíamos desviado no princípio do dia.
A noite começava então a cair; sem embargo fomos caminhando por desejarmos passar com o escuro a encruzilhada de Nioac, visto como existia ainda a dúvida se os paraguaios em nossa perseguição para lá haviam mandado algum destacamento. Uma légua mais entramos no Campo Grande. Esta extensa campina constitui vastíssimo chapadão de mais de 50 léguas de extensão, em que raras árvores rompem a monotonia duma planura sem fim, e nela está lançada a estrada que leva a Nioac e que é conhecida perfeitamente em toda a sua extensão pelos paraguaios.
O aspecto geral é, pois, extremamente uniforme: a marcha parece dificultosa e torna-se cansativa pela constante presença dos mesmos acidentes.
Para nós foram fatigantes o mais possível as duas léguas até chegar à encruzilhada da estrada de Nioac. Além da incerteza que nos dominava sobre a presença do inimigo, vento vivo e frigidíssimo nos açoitava o rosto, demorando-nos o andamento dos animais. A lua surgiu quando apareceu a bifurcação dos dois caminhos e estão eles tão próximos um do outro por muitas braças, que só se os distingue atendendo para uma árvore de paratudo, que foi pelos carreiros golpeada e quase lavrada. Meia légua além, fomos descansar junto ao capão do Burity, onde os paraguaios, em 1865, agarraram uma família brasileira, a qual se arranchara para fazer mate, erva que aí se acha em abundância e por diante aparece frequentemente, debaixo da forma de arbustos e não como para os lados da colônia de Dourados e norte do Paraguai, em que se encontram árvores desenvolvidas e algumas até possantes.
FONTE: Taunay, Viagens Doutr'ora, 2a. edição, Companhia Melhoramentos, SP, 1921, página 42. (Foto: IHGB)
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