terça-feira, 31 de agosto de 2021

Concluída a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil

 







As duas frentes de implantação da estrada de ferro (Itapura-Porto Esperança) se encontraram em Campo Grande, em 31 de agosto de 1914, completando a grande obra de acesso do Oeste ao litoral. A de Porto Esperança alcançara a cidade em maio. J. Barbosa Rodrigues resume o ato oficial de conclusão da estrada:

No dia 31 de agosto no mesmo ano de 1914, teve lugar a famosa ‘ligação’ dos trilhos, o que ocorreu às 10 horas da manhã sobre o córrego Taveira, onde hoje se ergue a estação de Ligação, nome que perpetuou o acontecimento. O 'Estado de Mato Grosso, na sua edição de 7 de setembro do mesmo ano, assim noticiou o fato: 'Ao enfrentarem-se as duas turmas romperam em vivas e gritos, continuando o resto do serviço entre uma alegria estrondosa. Ao estrugir de foguetes foram colocados os dois últimos trilhos cortados pela turma do Rio Pardo. O Dr. Oscar Guimarães batizou à champanhe os dois pedaços de ferro que pousando acima de corrente límpida do córrego da ligação acabaram com a distância da nossa terra. O Dr. Martins Costa, ilustre engenheiro residente em Campo Grande, apertou os parafusos. Em seguida a máquina 14, dos serviços de Rio Pardo atravessou o pontilhão recém acabado.' (...)


"A inauguração oficial da ferrovia teve lugar, porém, no dia 
14 de outubro,
chegando a Campo Grande o trem inaugural por volta das 10 horas, quando foi festivamente recebido pelos habitantes da vila", ainda segundo Barbosa Rodrigues.



FONTE: J. Barbosa Rodrigues, História de Campo Grande, edição do autor, Campo Grande, 1980, página 128.

FOTO: Estações ferroviárias do Brasil (estacoesferroviarias.com.br)

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Cuiabá revida ataque de paiaguás





Parte de Cuiabá em 30 de agosto de 1734 contingente armado de moradores da vila para dar combate aos índios paiaguás, ao longo do Pantanal. O episódio está nos anais do senado da Câmara:

Preparouse nesta vila a leva p.ª a dita Guerra tudo a custa do Povo, e sem despeza da Real Fazenda sem embargo de Sua Magestade a mandar fazer a custa della, e só tiverão o adjutorio de alguma Palavra com que asistio a Camara pelloz seoz bens. Despenderão liberalmente de suas fazendas para esta acção Antonio Pinto da Fonceca, o Brigadeiro Regente Antonio de Almeida Lara, Balthazar de Sam Payo Couto, Salvador de Espinha Silva, Antonio de Pinho de Azevedo, Antonio Antunes Maciel, seo irmão Fellipe Antunes Maciel, Antonio Pires de Campos, Pedro Vás de Barros, Antonio de Moraes Navarro, Gabriel Antunes de Campos, João Macha de Lima, Manoel Dias Penteado, Pedro Taques de Almeida, e outros varios que a sua custa prepararão canoas, armas, camaradas, e mais petreixoz necessarios. 

Sahio a Armada do Porto Geral desta Villa no primeiro de Agosto deste anno de 1734” composta de 28 canoas de guerra, oitenta de bagage, e tres balças, que erão cazaz portateis armadas sobre canoas. Oito centos quarenta e dous homens entre brancoz, pretos, e pardoz. Tudo o que era branco levava cargo e só se dezião Soldados os negroz, pardos, Indios e mestiçoz forão p.r Capelloens o Padre Fr. Pacifico dos Anjos, Religiozo Franciscano e o Padre Manoel de Campos Bicudo do habito de São Pedro com todos os paramentoz para se selebrarem Missa como o fazião dentro nas balças. | Rodarão Cuyabá abaixo, e Paragoay sem ver couza alguma de novidade por espaço de hum mez antes de chegar a bocaina virão ao serrar da noite fogos ao longe, e rodando mança mente sem extrondo acharão no barranco da parte esquerda pouzados alguns bugres, que dormião com seus fogos acezos, e tinhão as canoas embicadas em que andavão a espia da nossa armada, de que já tinhão noticia por revelação dos seus fiticeiros. Imbicarão as nossas canoas de guerra, dispararão-se lhes alguns tiros de mosquetes, levantarão se os bugres aturdidoz, deo se lhes huma carga serrada, em que morrerão quarenta, e escaparão quatro fogidos, pelo mato, que senão seguirão, tomou se hum vivo as mãos, que falava castelhano mal limado, dizendo que era castelhano catholico, que o não matacem não lhe valeo o pretesto, fizerão-no empicado, e as canoas em pedaços. Seguirão Rio abaixo tres dias e tres noites continuas sem pouzar, seria meya noite da terceira quando virão fogos ao longe por huma Bahia dentro da parte esquerda, emcaminharão se a elles remando sem estrondo, e ao romper da alva abeirarão o arayal do Gentio, que estava em hum campeste de terra alta a beira da agoa. Tocou hum negro huma trombeta, sem ser mandado, alvorosouse o Gentio, embarcarão se os guerreiros nas suas canoas a peleijar com a nossa Armada e huma grande chusma com suas algazarras custumadas; disparou se lhes huma carga de mosquitaria serrada, com que ficarão muitos mortos, e os mais acolherão se a terra, e em quanto isto se passou, muito dos que havião ficado no arayal escaparão em canoas cozidos com a terra por hum e outro lado, as quaes não passarão de dés, e os mais meterão se pela terra dentro que hera campestre com capoens de mato carrasquenho. Imbicarão as nossas canoas de Guerra, disparando sempre mosquetaria, com que matarão ainda muitos no Arrayal, lançouse logo a nossa Soldadesca ao alcansse dos fogetivoz pelo campestre dentro a fazer prezas, que logo aprezentavão aos officiaes, no que se ocuparão thé as duas horas da tarde. Recolhidos ao Arrayal contarão se duscentos secenta e seis prizioneiroz, e seis centos mortos por terra e nas agoas, que hera Bahia aonde não havia correnteza. Ficarão ainda muitoz espalhadoz | pelo mato dentro, que os nossos Soldados os não quizerão seguir, suspendendo a sua furia, por saberem que as prezas, que se aprezentavão ao Comandante no Arrayal, logo ahi as hia repartindo com os cabos, e pessoas principaes, e que elles nada tinhão daquela empreza, disserão huns para os outros = Venhão elles apanha-los se quizerem = e com isto se retirarão. Perecerão dos nossos dous negros e hum mulato mortos, pelas nossas mesmas armas as imbicar no Arrayal. Embarcarão-se a fazer pouzo fora daquele lugar, por estar inficionado com os cadaveres, e as agoas com o sangue que delles corria.

Consultou-se no dia seguinte Sesehouvera seguir o Gentio fugitivo thé dar se lhe fim, ou dar a função por acabada; foi a mayor parte dos rastos, que se seguice, não quis o Comandante fazelo com o pretexto de não chegar as Povoações Castelhanas, para que não tinha ordem de Sua Magestade, e falando se em procurar os que ficavão dispersos pelo mato afirmou a Soldadesca, que nenhum ficava, vendo elles o contrario, sentidos de que asprezas todas estivessem com dono, e elles com o trabalho, dizendo huns com outros = vão elles se quizerem = com isto voltarão dando a empreza por finda.


FONTE: Annaes do senado da Câmara de Cuiabá (1719-1830) folhas 18,19 e 20.

FOTO: meramente ilustrativa.

 

domingo, 29 de agosto de 2021

Morre o marechal Antonio Maria Coelho






Em Corumbá, aos 66 anos falece em 29 de agosto de 1894 o marechal Antonio Maria Coelho, herói da retomada de Corumbá na guerra do Paraguai. Nascido em Cuiabá, no exército desde 1839, onde assentou praça como voluntário, em 1847 foi promovido a alferes. Tenente em 1855, capitão em 1860, major e tenente-coronel em comissão em 1867, coronel em 1875, brigadeiro em 1888 e general de divisão 1890, foi reformado no posto de marechal. 

Com o barão de Melgaço participou das explorações territoriais ao Sul de Mato Grosso, antes da guerra do Paraguai; herói de guerra, comandou as tropas brasileiras na retomada de Corumbá aos paraguaios; integrou a comissão encarregada pelos limites entre Brasil e Paraguai, depois da guerra; e em 1889, é nomeado pelo governo provisório do marechal Deodoro, primeiro presidente do Estado, na era republicana.




FONTE: Estevão de Mendonça, Datas Matogrossenses, 2a. edição, Governo do Estado, Cuiabá, 1973, página 117.

FOTO: monumento ao marechal Antonio Maria Coelho, em Corumbá.

 

sábado, 28 de agosto de 2021

Cuiabá é declarada capital de Mato Grosso

 




Autorizada pela coroa portuguesa a mudar-se de Vila Bela da Santíssima Trindade para Cuiabá, a partir de 1820, somente 15 anos depois, em 28 de agosto de 1835, é que esta cidade é oficialmente declarada capital da província, por lei sancionada pelo presidente Pedro de Alencastro:

Lei n. 19 1835 - 28 de agosto

Art. 1. Fica declarada Capital da província de Mato Grosso a cidade de Cuiabá.

Art. 2. Ficam revogadas as Cartas Régias e mais disposições em contrário.¹

A defesa da mudança apresentou como argumentos, que Cuiabá possuía uma população superior a de Vila Bela, tinha uma melhor localização geográfica, pois era banhada pela bacia platina e através da navegação fluvial podia ter contato com as demais províncias brasileiras e até mesmo com os países platinos. Alegou ainda que a cidade era saudável e que a sua população podia contar com hospitais ao ficar doente.²


FONTE: Coleção das Leis Provinciais de Mato Grosso (1835-1912), ²Livro de Mato Grosso, aneste.org, capítulo 6.

FOTO: Cuiabá em desenho de Hercules Florence, (1826). 


sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Cidadão desenterra baus cheios de ouro no sul de Mato Grosso

 





Em sua edição de 27 de agosto de 1895, sob o título Achado Valioso, o jornal O Mato Grosso, de Cuiabá, reproduzindo publicação da Gazeta de Notícias (RJ, 1 de junho de 1893) dá notícia da descoberta de duas arcas contendo uma grande fortuna em ouro, inclusive ouro em pó:

" De viagem pela estrada que conduz de Campo Grande a Nioaque, distante sete léguas do primeiro povoado, o cidadão José Carvalho de Azevedo encontrou uma pedra lavrada por três faces e fincada, notando que aquela pedra só podia ter ali ido parar conduzida por alguém e que devia assinalar alguma coisa, resolveu aí ficar e cavar o lugar, e de fato, depois de uma cova de mais de oito palmos, encontrou um e depois outro caixão contendo valores em ouro, bem como ouro em pó. Por esta estrada passou a força para o Paraguai, havendo aí um grande fogo.

Se alguém se julgar com direito ao achado e dando os sinais certos se lhe indicará, dirigindo-se ao capitão José Carvalho de Azevedo - cidade de Rio Verde, Estado de Goiás".

FONTE: Jornal O Matto-Grosso (Cuiabá), 27 de agosto de 1895.

FOTO: Imagem meramente ilustrativa

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Criado o município de Campo Grande

 




Página da Gazeta Official com a lei que emancipou o distrito de Campo Grande



Fundada em 21 de junho de 1872, quando aqui chegou o pioneiro José Antonio Pereira, procedente de Monte Alegre, Minas Gerais, por Lei estadual de 26 de agosto de 1899, do governo de Mato Grosso, é criado o município de Campo Grande:

Resolução n. 225, de 26 de agosto de 1899


Eleva à categoria de Vila a paróquia de Campo Grande.


O coronel Antônio Pedro de Barros, presidente do Estado de Mato Grosso.
Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembléia Legislativa decretou e eu sancionei a seguinte resolução:


Art. 1º - É elevada à categoria de Vila a paróquia de Campo Grande, constituindo um município na comarca de Nioac.


Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário.


Mando, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida resolução pertencer que a cumpram e façam cumprir fielmente.
O secretário do Governo a faça imprimir, publicar e correr.


Palácio do Governo em Cuiabá, 26 de agosto de 1899. Undécimo da República.
Antônio Pedro Alves de Barros


Foi selada e publicada a presente resolução nesta secretaria do Governo em Cuiabá, aos 26 de agosto de 1899.


Secretário interino
José Magno da Silva Pereira.



Esta data passou a ser oficialmente o dia do aniversário da cidade, por iniciativa do intendente Rosário Congro, em 1919.




FONTE: J. Barbosa Rodrigues, História de Campo Grande, edição do autor, Campo Grande, 1980, página 79.


quarta-feira, 25 de agosto de 2021

A renúncia do presidente Janio Quadros






Em 25 de agosto de 1961, frustrando toda a nação, que o elegera com consagradora votação, renuncia, denunciando pressão de forças ocultas, o presidente Jânio Quadros, que assumira o governo nove meses antes. Foi o filho de Campo Grande que ascendeu mais alto na política brasileira pelo voto direto.

Sua renúncia foi oficializada na seguinte carta ao Congresso Nacional:

"Fui vencido pela reação e assim deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.

Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.

Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.

Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia.

Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos e de todos para cada um.

Somente assim seremos dignos deste país e do mundo. Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos todos. Há muitas formas de servir nossa pátria."

Brasília, 25 de agosto de 1961.

Jânio Quadros"

terça-feira, 24 de agosto de 2021

O suicídio do presidente Vargas






Com um tiro no peito, matou-se no Rio, em 24 de agosto de 1954,presidente Getúlio Vargas, eleito em 1950. Pressionado a renunciar por militares e oposição civil, liderada por Carlos Lacerda, prefere a medida extrema contra a própria vida. A repercussão de sua morte no Estado de Mato Grosso é maior na região da grande Dourados, onde implantara o Colônia Agrícola Nacional de Dourados, então, tido como o maior projeto de reforma agrária do Brasil. Como presidente, na ditadura, extinguiu o monopólio da Mate Larangeira no Sul de Mato Grosso e criou o Território Federal de Ponta Porã, ainda abrangendo a região meridional do Estado, mais precisamente os municípios de Porto Murtinho, Bela Vista, Dourados, Miranda, Nioaque e Maracaju, com capital em Ponta Porã.

Junto ao corpo de Vargas foi encontrada a seguinte

Carta-testamento:
 
Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a Justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o povo seja independente. Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder. Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo e renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com perdão. E aos que pensam que me derrotam respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo, de quem fui escravo, não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história“.



domingo, 22 de agosto de 2021

Os 4 anos da morte de Pedro Pedrossian

 






Faleceu em Campo Grande, em 22 de agosto de 2017, o ex-governador Pedro Pedrossian, cuja trajetória é resumida em dados do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas:


"Pedro Pedrossian nasceu em Miranda, então Mato Grosso, em 13 de agosto de 1928, filho de João Pedro Pedrossian e de Rosa Mardini Pedrossian, ambos de origem armênia.
Fez os estudos secundários em Mato Grosso e ingressou na Universidade Mackenzie, na cidade de São Paulo, formando-se em engenharia civil. Em seguida, tornou-se engenheiro residente da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil em Três Lagoas (MS). Passou a chefe de divisão da ferrovia em Campo Grande, então em Mato Grosso e atual capital de Mato Grosso do Sul. Foi assessor do presidente da Rede Ferroviária Federal, no Rio de Janeiro, e diretor superintendente da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil em Bauru (SP), de 1961 a 1964.
Em outubro de 1965 foi eleito governador pela coligação do Partido Social Democrático (PSD) e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Tomou posse em 31 de janeiro de 1966 sucedendo a Fernando Correia da Costa. Foi o candidato a governador mais votado em toda a história de Mato Grosso, com 109.905 votos.
Após a extinção dos partidos pelo Ato Institucional nº 2 (27/10/1965) e a posterior instauração do bipartidarismo, ingressou na Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de apoio ao regime militar instalado em abril de 1964. Em agosto de 1967, foi apresentado pelo deputado estadual Júlio Castro Pinto, também da Arena, um projeto pedindo à Assembléia Legislativa a decretação do seu impedimento, sob a alegação de que recebia o apoio sistemático da oposição. Conseguiu entretanto superar a crise, mantendo-se no cargo.
Em seu governo, desdobrou as secretarias, redividindo-as em Interior e Justiça, Fazenda, Agricultura, Segurança, Indústria e Comércio, Saúde, Educação e Cultura, Governo e Coordenação Econômica e Viação e Obras Públicas. Promoveu a construção da ponte Júlio Müller, sobre o rio Cuiabá, na capital, e da estação para abastecimento de água e serviço de captação; ampliou a produção de energia elétrica; levou à frente a construção da usina hidrelétrica nº 3, do rio Casca; construiu o palácio do Poder Legislativo; aparelhou os hospitais dos Tuberculosos e Adauto Botelho; concluiu a maternidade do Hospital Geral de Cuiabá; criou uma escola de recuperação de crianças excepcionais e fundou duas universidades, a Federal de Mato Grosso, em Cuiabá, e a Estadual de Mato Grosso, em Campo Grande.
Em 15 de março de 1971, findo o mandato, passou o governo ao arenista José Fragelli, eleito pela Assembléia Legislativa em outubro do ano anterior.
Em outubro de 1977 foi sancionada a lei que dividiu em dois o estado de Mato Grosso. Surgiria assim, a partir de janeiro de 1979, o estado de Mato Grosso do Sul, tendo Campo Grande como capital e um governador nomeado. O antigo estado de Mato Grosso permaneceria com Cuiabá como capital. No início de 1978 a Arena viu-se dividida, na região que iria constituir o futuro estado de Mato Grosso do Sul, em duas grandes correntes: a ortodoxa (formada por antigos udenistas e pessedistas), que se denominava “ala democrática”, e a “independente”, que agrupava os seguidores de Pedrossian. Muitos políticos da “ala democrática”, supondo já muito provável a eleição de Pedrossian para o governo do novo estado, tentavam impedir essa indicação. As divergências entre as facções arenistas levaram o ex-governador ao palácio do Planalto em fevereiro desse ano para entregar ao presidente da República um documento em que se defendia das acusações que lhe eram feitas pelo governador Garcia Neto, pelo ex-governador José Fragelli e pelo senador Mendes Canale. Essas acusações caracterizavam sua administração como um período de irregularidades administrativas, com apropriação de terras públicas e importações de materiais que não chegavam a ser utilizados, e afirmavam ainda que fora demitido da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, em 1967, por corrupção. Em fins de março, Pedrossian entregou ao presidente Ernesto Geisel (1974-1979) outro documento, em que renunciava à candidatura ao governo do estado. Em entrevista ao Jornal do Brasil (13/3/1978), declarou que sua candidatura ao Senado, em eleição direta, em vez de ao governo, por via indireta, seria uma forma de se submeter ao julgamento popular.
Em 15 de novembro de 1978 foi eleito com 107.519 votos. Assumindo o mandato em fevereiro de 1979, fez parte das comissões de Agricultura, de Educação e Cultura, de Relações Exteriores, de Serviço Público Civil e Transportes e de Comunicação e Obras Públicas. Com a extinção do bipartidarismo, em 29 de novembro de 1979, e a conseqüente reformulação partidária, filiou-se ao novo partido governista, o Partido Democrático Social (PDS).
Com a nomeação de Harry Amorim para o governo do estado, Pedrossian, com os senadores Saldanha Derzi e Mendes Canale, acusou-o de ter cometido erros administrativos, entre eles a importação de tecnocratas de outros estados, aos quais ofereceu mordomias e salários principescos. Em junho de 1979, entregou pessoalmente um documento ao presidente João Figueiredo (1979-1985) em que acusavam formalmente o governador de instaurar um política de concessão de favores e barganhas e, inclusive, de distribuir recursos do estado a prefeitos e deputados da Arena visando a minar as bases políticas das tradicionais lideranças e criar o seu próprio grupo, com a ajuda de Levi Dias, deputado federal e ex-prefeito de Campo Grande. O signatário solicitava para a solução do impasse político instaurado no estado a nomeação do então prefeito de Campo Grande, Marcelo Miranda, para o governo de Mato Grosso do Sul, o que foi feito.
Em outubro de 1980, Marcelo Miranda foi exonerado por motivos político-eleitorais e Pedrossian foi indicado por Figueiredo para ocupar o cargo. A indicação ocasionou uma dissidência no PDS, tendo como um dos líderes o suplente da vaga, José Fragelli, e provocou uma manobra por parte do ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel, na qual o Senado concederia uma licença ao parlamentar, evitando a sua renúncia e, conseqüentemente, a perda do mandato e a posse de Fragelli. Contudo, Pedrossian não teve outra saída senão a renúncia. Assumiu o governo em 6 de novembro de 1980, após seu nome ter sido aprovado pelo Senado por maioria simples, com 33 votos a favor, 24 contra e duas abstenções. Ainda nesse mesmo mês, no dia 17, perdeu a maioria na Assembléia Legislativa, em razão de terem seu presidente, deputado Londres Machado, e os deputados Ari Rigo e Getúlio Gideão abandonado o PDS.
Em agosto de 1981 acusou os parlamentares de seu estado que haviam passado para a oposição de procurar indispô-lo com o governo federal, com a acusação de que estaria sofrendo de insanidade mental. Nessa ocasião, estava de fato internado num clínica, segundo seus assessores, para se submeter a um tratamento da coluna. Seus opositores, no entanto, diziam tratar-se de uma clínica psiquiátrica.
Em abril de 1982, demitiu o prefeito de Campo Grande, Levi Dias, medida que gerou protestos e agravou a crise no PDS. O declínio de seu prestígio refletiu-se em novembro de 1982, quando o candidato do PDS ao governo, José Elias Moreira, foi derrotado por Wilson Martins, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).
Em 1986 deixou o PDS e filiou-se ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), assumindo a liderança do partido no estado. Em novembro desse ano, disputou uma das duas vagas ao Senado. Embora tenha sido o segundo mais votado, devido às regras da sublegenda, que privilegiavam os candidatos mais votados das sublegendas que obtivessem maior número de votos, foi derrotado por Wilson Martins e Saldanha Derzi, lançados pela Aliança Democrática, integrada por PMDB, Partido da Frente Liberal (PFL), Partido Comunista Brasileiro (PCB) e Partido Democrático Trabalhista (PDT).
Aliado político de Fernando Collor, empossado na presidência em março de 1990, candidatou-se ao governo em outubro daquele ano. Eleito, assumiu seu terceiro mandato como governador em 15 de março de 1991, sucedendo a Marcelo Miranda (1987-1991). No discurso de posse, após destacar o estado falimentar que se encontrava Mato Grosso do Sul, com os servidores em greve e uma dívida que ultrapassava um bilhão de dólares, anunciou o corte de 25% dos cargos em comissão e extinguiu as secretarias de Cultura e de Assuntos Fundiários. Ao mesmo tempo, porém, criou pastas para as áreas de habitação e comunicação. Além disso, suspendeu todos os pagamentos de dívidas do governo anterior e, visando a pôr um ponto final na greve dos servidores, deu prioridade ao pagamento dos salários atrasados. Ainda durante a campanha, havia prometido regularizar o pagamento dos servidores, atrasados quatro meses até maio de 1991. Em abril, recorrendo a empréstimos bancários, regularizou o pagamento dos servidores.
Em maio de 1992, Pedro Collor, irmão de Fernando, fez denúncias que envolviam o presidente em casos de corrupção promovidos pelo tesoureiro da sua campanha eleitoral, Paulo César Farias. Pedrossian, a princípio, assumiu uma posição cautelosa, recusando-se a comentar o teor das acusações e o pedido de impeachment. Em agosto desse ano, porém, após a divulgação do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instituída para investigar as atividades de Paulo César Farias, e quando crescia o movimento popular pró-impeachment de Collor, embora não tenha ficado abertamente a favor da abertura do processo, liberou a bancada para que votasse de acordo com sua consciência. Em 29 de setembro o pedido para abertura do processo de impedimento foi votado e aprovado pela Câmara. Afastado da presidência logo após a votação, Collor renunciou em 29 de dezembro de 1992, pouco antes da conclusão do processo pelo Senado, que decidiu pelo impedimento. Foi efetivado o vice Itamar Franco, que vinha exercendo o cargo interinamente desde a decisão da Câmara.
Em março de 1994 Pedrossian foi considerado pelas pesquisas de opinião um dos governadores com maiores índices de aprovação. Com esse respaldo, nas articulações para definição da coligação que apoiaria o candidato a presidente Fernando Henrique Cardoso, combateu a aliança entre o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o PMDB regional, que sustentava a candidatura de Wilson Martins ao governo. No decorrer das articulações, deixou claro a Fernando Henrique que só o apoiaria caso ele mesmo indicasse o candidato à sua sucessão. Fernando Henrique decidiu manter o apoio de Pedrossian, resolução que provocou uma divisão no PSDB regional. Pedrossian acabou abstendo-se de lançar um nome à sua sucessão. Passou o governo em 1º de janeiro de 1995 para o candidato eleito, o peemedebista Wilson Martins.
Em 1998, disputou pela terceira vez o governo à frente de uma coligação do PTB com o PFL. Apontado pelas pesquisas de opinião, nos meses que antecederam o pleito, como franco favorito, acabou em terceiro, ultrapassado pelo candidato do PSDB, Ricardo Bacha, e pelo candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), José Orcino Miranda dos Santos, o Zeca do PT. No segundo turno, apoiou o candidato petista, que foi eleito.
Voltou às urnas em outubro de 2002, disputando uma das duas vagas em disputa no Senado. Concorrendo na legenda do Partido Social Trabalhista (PST), foi derrotado por Ramez Tebet, do PMDB, e Delcídio Gomes, do PT. Posteriormente, filiou-se ao Partido Republicano Brasileiro (PRB), agremiação ligada à Igreja Universal do Reino de Deus.
Em maio de 2006 lançou o livro de memórias Pedro Pedrossian – O pescador de sonhos, publicado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul.
Em março de 2009, filiou-se ao Partido da Mobilização Nacional (PMN).
Recebeu título de doutor honoris causa da UFMT, em 2010.
Casou-se com Maria Aparecida Pedrossian, com quem teve cinco filhos. Um deles, Pedro Pedrossian Filho, foi deputado federal na legislatura 1999-2003".


FONTES: CÂM. DEP. Internet; CORRESP. GOV. EST. MT; Estado de S. Paulo; Folha de S. Paulo; Globo ; Grande encic. Delta; INF. FAM. PEDRO PEDROSSIAN FILHO; Jornal do Brasil; MENDONÇA, R. Dic.; MENDONÇA, R. História; NÉRI, S. 16; Perfil (1980); Perfil parlamentar/IstoÉ; Veja; Portal da Universidade Federal do Mato Grosso. Disponível em <http://www.ufmt.br>. Acesso em 02/09/2013




sábado, 21 de agosto de 2021

Primeira ponte rodoviária entre São Paulo e Mato Grosso

 



Ponto Maurício Joppert, atual Hélio Serejo, capa de revista


Iniciada no governo do presidente Juscelino Kubitscheck é inaugurada oficialmente em 21 de agosto de 1965, a ponte Maurício Joppert, ligando os estados de São Paulo e Mato Grosso. A ponte mede 2.550 metros de comprimento por 12,7 m de largura e comporta tráfego normal de veículos em duas pistas.

Até então a travessia do rio Paraná entre Presidente Epitácio (SP) e Porto XV de Novembro, nas imediações de Bataguassu, representava um entrave para o intercâmbio comercial entre os dois Estados. Nas duas margens do rio formavam-se filas enormes de veículos,principalmente caminhões lotados de mercadorias, que aguardavam pacientemente a vez para o transporte através de balsa que demorava mais de uma hora para atravessar.

"Com a entrega ao tráfego da ponte Maurício Joppert - viu-se na época - verificou-se imediatamente alta considerável dos preços de terras nos municípios de Bataguaçu, Anaurilândia e Dourados, no Estado de Mato Grosso. Registrou-se também mais demanda de informações sobre as possibilidades imediatas do território sulino de Mato Grosso, onde grandes organizações industriais e comerciais pretendem montar fábricas e agências".

A rodovia entre Epitácio e São Paulo era totalmente pavimentada. As BRs 34 (hoje BR-267) e 16 (hoje BR-163), ligando Porto XV, Campo Grande e Cuiabá eram estradas de chão.

Seu nome mudou para Hélio Serejo, pela lei 12.610 de 10 de abril  de 2012, de iniciativa do deputado Vander Loubet, em homenagem ao escritor sul-matogrossense, falecido em 2007 que residia há muitos anos no município de Presidente Venceslau (SP).


FONTERevista Brasil-Oeste, Brasil-Oeste Editora Ltda., São Paulo, agosto de 1965 (n° 107), página 29.