domingo, 2 de janeiro de 2022

Guerra do Paraguai: amedrontado comandante brasileiro foge e abandona Corumbá

 




Planta da vila de Corumbá em 1864


No dia 2 de janeiro de 1865, em ato tido como desastroso e covarde, o coronel Carlos Augusto de Oliveira, comandante das armas da província de Mato Grosso, ordena e efetua o abandono da vila de Corumbá, que no dia seguinte foi ocupada, sem a menor resistência, pelas forças paraguaias sob o comando do coronel Vicente Barrios, que em 28 de dezembro haviam tomado o forte Coimbra.

O insólito episódio é descrito pelo historiador:

Pelas 9 horas da manhã do dia 2 de janeiro levantava ferros o Anhambaí, comandado pelo 1° piloto José Israel Alves Guimarães. Impaciente e temeroso, o coronel Carlos Augusto de Oliveira foi o primeiro a embarcar, secundado pelos oficiais e por um séquito de apaniguados. Seguia também no posto de honra o comandante da flotilha. Ia de tal modo superlotada a embarcação, que navegava com a linha de segurança submersa. A reboque iria a Jacobina, na qual se amontoavam praças de pré, paisanos, mulheres e crianças. Era demasiado o encargo para o pequeno vapor de guerra. Diante do impasse, determinou fosse a chata largada à própria sorte, com os seus ocupantes, à margem do rio. Ergueram-se protestos e clamores e a soldadesca rebelava-se contra os superiores, solidária com o sentimento dos civis. Ruíra fragorosamente o respeito à hierarquia e, com ele, a derrocada da ordem e da disciplina. Todos se nivelaram na ânsia incontida de escapar ao inimigo, cada vez mais perto do porto.

Antes de embarcar com sua tropa com destino a Cuiabá, o comandante ainda retornou aos quartéis desertos, onde encravou a artilharia e as armas portáteis e providenciou "o lançamento ao rio das pólvoras e dos cunhetes de munição, para que não caíssem em poder dos invasores. Isso feito voltou ao posto abnegativo para conduzir, em memoráveis jornadas através dos pantanais, a massa heterogênea de retirantes."

Sem seus defensores oficiais, na vila abandonada poucos permaneceram:

Alguns ainda tentaram tardiamente escapar, utilizando canoas, igarités e embarcações de todos os tipos para, adiante, infalivelmente, cair prisioneiros. Outros, sem aqueles recursos, internaram-se nos matos e galgaram os montes, onde os foram buscar as patrulhas paraguaias. Os cônsules deixaram-se ficar, certos de duas imunidades diplomáticas, resolução de que muito haveriam de se arrepender.

No dia seguinte, 3 de janeiro de 1865, o invasor, sem encontrar resistência, ocupou Corumbá.


FONTE: Lécio Gomes de Souza, História de Corumbá, edição do autor, Corumbá, sd, página 56.

Nenhum comentário:

Postar um comentário