sábado, 1 de janeiro de 2022

Guerra do Paraguai: brasileiros ocupam Assunção






A primeira divisão da esquadra brasileira ocupa a capital paraguaia, abandonada pelo governo e pela população. A comunicação ao Rio de Janeiro é oficialmente encaminhada pelo barão de Passagem, o comandante das forças de ocupação:

"Tenho a honra de levar ao alto conhecimento de V.Exa. que no primeiro dia do ano de 1869, sob os melhores auspícios, as forças brasileira de mar e terra ocuparam efetivamente a cidade de Assunção capital do Paraguai, registrando assim nos fastos luminosos desta campanha mais um feito de grande alcance para a política da guerra e por mercê de Deus, incruento! Conforme as minhas instruções achava-se pronta, às 10 horas da manhã desse dia a divisão composta dos encouraçados Bahia, Barroso e Tamandaré; monitores Pará, Alagoas, Santa Catarina, Piauí, Rio Grande e Ceará e os transportes Paissandu e Guaicuru, e a bordo destes dois últimos embarcada a 6a. brigada do exército imperial, do comando do coronel Hermes Ernesto da Fonseca. Às 10 horas e 15 minutos, de V illeta, levantaram âncora todos os navios e determinei que o Barroso e Piauí com os transportes na retaguarda da linha formassem a divisão de desembarque, e somente investiriam a capital inimiga para efetuá-lo quando eu assinalasse; os demais navios navegavam na formatura que lhes ordenei. Seguiu, pois, cheia de entusiasmo a expedição, sem contrariedade alguma, até a capital inimiga onde chegamos às 4 e meia horas da tarde, em consequência da pouca marcha dos monitores e necessidade de ter à vista todos os navios. Tendo-se transposto os pontos outrora fortificados, reconhecido não haver resistência e colocados os navios em posição de proteger a operação, assinalei a divisão de desembarque que investisse o porto, e aí procedeu-se imediatamente ao desembarque com toda a atividade, apesar do mau tempo.

Ás 6 horas da tarde essa operação estava concluída e tremulava em Assunção a bandeira imperial; ao arsenal de marinha onde mandei hastear na posição em que se achava acampada a força expedicionária sob o comando do coronel Hermes, a quem também entreguei para esse fim um emblema da nossa nacionalidade e finalmente no vasto palácio de Lopes ao próprio lugar em que fora derrubada a bandeira paraguaia por tiros deste navio no bombardeamento que esta divisão fez em 30 de novembro último, foi levantada uma nova haste, e eu, em pessoa, nela arvorei o pavilhão brasileiro.

Antes de encetar-se o desembarque viu-se uma força inimiga de cavalaria e infantaria que parecia retirar-se precipitadamente, e nessa ocasião conseguiu escapar-se do cativeiro e ser recolhido incólume um soldado nosso, voluntário de Mato Grosso, onde caíra prisioneiro. No porto encontrei fundeada uma escuna italiana com a sua respectiva bandeira. Está pois realizada uma das maiores aspirações da tríplice aliança. Assunção que revelava um aspecto horrível a que fora reduzida pelo exílio, fuzilamentos, prisões subterrâneas e entrincheiramento em suas ruas, apresenta atualmente uma nova era de redenção e esperança para o malfadado povo paraguaio, que sem dúvida alguma cobrirá de maldições o bastardo ditador Lopez que fez a sua nação seu feudo e sacrificou-a aos seus caprichos sanguinários. Ao terminar, receba V. Ex. e todos os brasileiros as nossas mais fervorosas e entusiásticas congratulações.

Deus guarde a V. Ex. - Ilmo. e Exmo. Sr. conselheiro visconde de Inhauma, vice-almirante em chefe da esquadra em operações - Barão da Passagem, chefe de divisão".

Reaberta a navegação no rio Paraguai, em 5 de janeiro, as primeiras embarcações brasileiras deixam o porto de Assunção com destino a Corumbá e Cuiabá.



FONTE: Diário do Rio de Janeiro, 29 de janeiro de 1869.

FOTO: Encouraçado Tamandaré.


 

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